Já está sabendo do "babado"?
De 25 a 27 de novembro deste ano, acontece no Litoral do Paraná a primeira edição do ERUDS- Encontro Regional Universitário da Diversidade Sexual. O evento é uma resposta dada pelo Coletivo Leque ao concelamento do 9º ENUDS- Encontro Nacional que deveria acontecer neste mês na Bahia, mas que fora cancelado por razões técnicas. A seguir, apresento um artigo que fiz sobreo Encontro Nacional do ano passado para o blog Além da Parada e disponivel em http://alemdaparada.blogspot.com/2010/10/o-natural-te-constrange-relato-sobre-o_14.html. Esperamos que o evento deste ano seja tão bom quanto o anterior.
Confira preços e programação no link: http://coletivoleque.blogspot.com/2011_10_01_archive.html.
*provavelmente (certeza se não houver imprevistos) sairá ônibus da UFPR- Curitiba, a preços "simbólicos"
*qualquer alteração, siga o blog do Coletivo Leque.
O natural te constrange? (Relato sobre o 8º ENUDS)
(por Dorothy Lavigne)
"Vai tomar no c*!"
Achou a frase ofensiva? Os cerca de 450 estudantes reunidos em Campinas neste ultimo feriadão não acharam, muito pelo contrário. Tanto que o cartaz que dava boas vindas aos que chegavam a 8ª edição do ENUDS (Encontro Nacional Universitário da Diversidade Sexual) era uma composição de fotos de vários ânus, e propunha que se adivinhasse qual pertencia a um gay, um hetero, uma transexual, etc...
Como o tema:"Assimilação X Transformação- políticas de subversão e ciladas dos movimentos sociais" o evento conseguiu de forma magistral alcançar o objetivo ao qual se propunha; ser um espaço de subversão cultural e liberação dos corpos e apresentar criticas ao"conservadorismo das ONGs e instituições ligadas a questão LGBT.
Quando cheguei por volta das 9 da manha de sexta, nem imaginava tudo o que estava prestes a acontecer diante dos meus olhos. Admito não ter aproveitado todos os espaços por que tive que ir constantemente ao alojamento levantar o queixo. Coisa de "curitiboca" bem comportadinha.
Logo na mesa de abertura, um dos oradores resume o que estaria por vir, ao aludir a uma pixação nos muros de Paris no Maio de 68:"Quanto mais faço revolução, mais sinto vontade de amar. Quando mais amo, mais sinto vontade de fazer revolução".
Na noite de domingo, uma festa na boate Orion, o TransENUDS fora palco de um ato político emocionante e inesperado. Estavam previstas na programação várias performances, incluindo um "topless". Porém a milícia dos bons costumes, digo, os seguranças da casa tentaram intervir. Nesse momento, Janaina Lima, militante do Grupo Identidade e uma das organizadoras do evento sobe ao palco para denunciar o ato de repressão, e diante do desafio "O que vamos fazer?" todas as mulheres presentes passaram a mostrar os seios em solidariedade a colega discriminada (vide foto acima, tirada por Manoel Barbosa).
No outro dia, na mesa sobre feminismo, uma professora palestrante, ao sugerir que o Enuds se limitava a um evento acadêmico, recebera como resposta de um dos participantes "O que é academia pra vocês? Pra que tanto antagonismo entre militância e academia? Vamos lutar contra o verdadeiro inimigo em vez de lutar uns contra os outros!"
Houve ainda na segunda feira de manhã uma visita a Fazenda Roseira, importante marco histórico e patrimônio cultural ameaçado pelo "progresso", e que só resiste graças a intervenção direta da Comunidade do Jongo Dito Ribeiro, que resgata parte da tradição negra em meio a construção de modernos complexos habitacionais e shopping-centers.
Pontos altos na programação foram os "oficursos", com oficinas dos quais destaco 3:
" Introdução à Política Queer", apresentado por Richard Miskolci e Leandro Colling; "Os Estigmas da Ditadura no Corpo", coordenado por Jardel Augusto Dutra da Silva Lemos e "Cenas e Imagens Pornográficas: faça você mesmo", coordenado por Fernando Matos e Fátima Regina Almeida de Freitas
Quem não foi e gostaria de saber o que perdeu veja a programação:http://www.identidade.org.br/2010/html/programa/index.html
Agora falarei sobre minha experiência pessoal e o que aprendi durante o evento. Preciso admitir que não consegui estar presente a todos os espaços como já afirmei. As atividades me impactaram por demais, ao ponto de não conseguir sair do alojamento com medo do que poderia ver do lado de fora. Nesse momento consegui perceber o quanto somos reprimidos e anulados em nossos desejos, descobri que temos um corpo e o que podemos fazer com ele. Vi o quanto da minha vida foi jogada fora por causa da repressão social e da falta de coragem de me impor.
O ENUDS mudou minha vida quando, no momento em que as pessoas estavam saindo do alojamento para ir embora, ao ver do lado de fora um grupo de nudistas, criei finalmente coragem e gritei, entre lágrimas: "Gostaria muito de participar com vocês, mas meu corpo não permite [por ser transexual em transição] "
Para mim, o Encontro foi mais que um momento de catarse, um caminho para a libertação de muitos traumas pessoais e a oportunidade de vivenciar um mundo inclusivo que tentamos construir, no qual as pessoas não tenham mais medo de ser o que quiserem ser.
Por fim, caso o ilustre leitor tenha se sentido em algum momento de meu testemunho constrangido ou mesmo violentado em seu pudor, respondo com uma das frases escritas em um dos vários cartazes espalhados pela Unicampi: "Eu vivo a tua vergonha".
Fotos do evento você poderá conferir em http://www.flickr.com/photos/alemdaparada
Participem, com certeza será inesquecível.
Desbundai!!!
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