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Estudante transexual vitima de perseguição política na UFPR

quarta-feira, 23 de maio de 2012.
Ave Butler! Hail Mott!

Estou hoje interrompendo minha "programação normal" para denunciar mais um crime LGBTfóbico que, que infelizmente e apesar de todas as provas e absurdos não aparece devidamente na mídia. Aproveita para desabafar que o que ocorre na UFPR não é nada diferente do que ocorre em outras Universidades do país. Nesse exato momento, eu estou tendo que correr atras dos professores do IH-UFRJ na tentativa louca de implorar a cada um que risquem o meu nome civil, quando da divulgação das notas da turma via-mural

Segue o relato do que ocorrera com um aluno da UFPR, e meu grande amigo pessoal, André. É de importãncia vital que os atos da Instituição UFPR sejam observados e denunciados, por que, além de representarem uma represália a um militante LGBT, que no momento se solidarizava com um ato de racismo que vitimizara duas colegas, abre um perigosíssimo precedente, pois pela primeira vez\  se usa o Nome Social e o respeito a Identidade de Gênero como ARMA DE CERCEAMENTO E POLICIAMENTO IDEOLÓGICO para intimidar e desvalorizar a fala de estudantes TTTs:
Quantos estudantes de talento a Universidade Fascista do Paraná perderá para garantir seu projeto de clareamento e heteronormatização da "elite intelectual" paranaense?


 ***
"No mês passado, como vocês podem lembrar, pois publiquei no meu mural do Facebook e enviei emails, houve um episódio de racismo na UFPR. Duas alunas da pedagogia ao comerem bananas no intervalo da aula foram chamadas de "macaquinhas comendo bananinhas" por sua professora na sala de aula. No decorrer da aula a professora insiste na injúria e diz a uma das alunas que havia esquecido o texto ou o caderno (não lembro) "vc esquece o texto/caderno mas não esquece a bananinha...". As moças ficaram muito chateadas e buscaram ajuda. Confesso que ainda não tinha contado que uma das meninas é amiga pessoal da Edi pois trabalha com ela, mas não me referi a isso para não levantar a questão de que só me indignava por se tratar de alguém conhecida. A própria Edi indicou que elas buscassem auxílio no NEAB (Núcleo de estudos afro-brasileiros), o qual foi, na figura de um professor mediador, totalmente ineficaz e omisso. De cara dizeram para as alunas que a professora era muito "brincalhona" e que elas deveriam deixar "para lá" esta história. Depois de alguma insistência, em outra reunião, as meninas foram para uma sindicância (a qual não foram informadas anteriormente) na presença de 5 professores do setor de educação que, em um processo cheio de coação, incitaram-nas a desistir e aceitar as desculpas da professora. Entretanto, no dia posterior à denúncia, a professora já havia feito em sala o comentário "sabe aquela bananinha da semana passada, eu fiz uma torta e comi ela inteirinha", bem como havia usado de sua posição de poder para avisar aos alunos que estudassem muito pois quem precisassem de um décimo na nota ela não daria... Em emails que circularam na net em listas de discussão, pude ler um email que a professora se defende da acusação de racismo dizendo que não o era pois ano passado em sua formatura no curso de Direito até dançou a valsa com um colega angolano (que ela não se refere como negro mas deixa subentendido devido a sua origem africana) e que tudo não passou de uma brincadeira...

O fato é que, vergonhosamente, em mais um episódio de clara hierarquização e discriminação, a UFPR tentou jogar a sujeira para baixo do tapete. As meninas ficaram coagidas e decepcionadas, sendo que a Eliane (aluna que escreveu a carta que publiquei no FB) ficou muito abalada e magoada com os encaminhamentos. Neste momento que eu e a Edi entramos na história. Talvez ela por ser amiga pessoal de uma das alunas discriminadas e por conhecer de perto o poder de esmagamento da UFPR com aqueles que contrariam as suas tão arraigadas normas da "moral e dos bons costumes" e eu, por já conhecer em meu próprio corpo as dores de ser excluído, humilhado, constrangido, inferiorizado na rotina acadêmica de uma instituição que não faz questão alguma de mostrar o quanto não nos deseja neste espaço, resolvemos fazer alguma intervenção com o intuito de novamente não vermos estes assuntos serem tratados como insignificantes circunstâncias do dia-a-dia acadêmico. Pensamos em várias coisas e por fim resolvemos "presentear" a professora com um vaso de flores com 3 bananas com um cartão lembrando o ocorrido. O cartão continha o seguinte: "Convido vc a participar da campanha: Prof. Ligia Klein - Dê uma banana ao racismo" e mais abaixo continha uma pequena foto dos "Bananas de pijamas". A Edi entregou as flores e a professora até a agradeceu. A ideia da flor foi dela e a arte também, eu apenas havia sugerido irmos fantasiados de bananas de pijamas, o que não foi possível pois não encontramos tais fantasias nas lojas de festas. A Edi também fez alguns cartazes com o conteúdo muito parecido com o cartão da professora e colamos nos locais indicados e permitidos para a propaganda do campus em que estudamos, o contéudo era: "Participe da campanha: Prof. Ligia Klein - Dê uma banana para o racismo" e novamente a foto singela dos bananas de pijamas. Saliento que uma das alunas deu entrada na delegacia de crimes raciais em um B.O. relatando o fato.

Esta semana eu estava em BH no 7º encontro de travestis e transexuais do sudeste para participar de uma mesa que falaria das exclusões na educação fora da escola. No momento da mesa, recebi quase 50 ligações da UFPR e algumas mensagens de uma colega do projeto "Violência Policial e Racismo" o qual pertencemos. Não atendi pois estava no silencioso e só percebi o quanto estava sendo "caçado" quando no almoço recebo uma ligação de meu querido orientador, Prof. Pedro Bodê que tentava me avisar do processo que estava acontecendo aqui em Curitiba. Algumas mensagens falavam em expulsão. Chegando aqui que pude conversar melhor com ele e saber a quantas andava o processo. Foi aberto uma sindicância para apurar a responsabilidade de quem colou os cartazes denominados "apócrifos e ofensivos" à prof. DRA. Ligia Klein, pois para a minha falta de sorte, a UFPR possui câmeras para nosso controle, mesmo não disponibilizando materiais mínimos de bem-estar como papel higiênico nos banheiros. Meu orientador me tranquilizou e garantiu que me defendeu, negando veementemente quando foi convocado a participar da sindicância em fazer o reconhecimento, pois acreditava que o foco da discussão não era esse e que por sua postura e ativismo contra a criminalização, jamais ajudaria a me delatar. Mas outros o fizeram. A situação tornou-se insustentável, tanto que não voltei mais as atividades esta semana (estamos na semana acadêmica do curso). Ontem encontrei-me com uma colega que estava muito preocupada com o rumo que tudo está tomando, informando-me que havia sido questionada se conhecia "o aluno TRANSEXUAL que havia colado os cartazes". Outro rapaz que foi chamado a sindicância contou-me que para fazerem meu reconhecimento a comissão mostra minha ficha acadêmica (com meu nome civil e minha foto anterior ao processo de transição) e que a minha transexualidade é perguntada aos informantes, bem como descrita no termo que os mesmos devem assinar. Como disse para meu orientador, acredito que a universidade nem precise realizar nenhum ato administrativo mais feroz contra a minha pessoa, basta fazer o que sempre desejaram: exposição de minha condição, é claro, não sou ingênuo, de forma a atrelar o fato de eu ser transexual a minha ação ativista, e sempre numa conotação depreciativa, pejorativa e que visa expor-me ao ridículo.

Minha estratégia será a de fazer algo que não desejava, mas que confesso já ter pensado. Pretendo expor minha condição de homem transexual, até porque em todo o tempo que tentei escondê-la, a universidade foi muito mais eficaz em torná-la pública. Nunca envergonhei-me de ser trans, apenas sempre quis não ser visto apenas por esta marca, este rótulo. Entretanto, se esta é a arma da Universidade, vou desarmá-la. Sinto, pois muito provavelmente perderei a amizade de muitas pessoas. Voltarei a ser um corpo-alien e qualquer manifestação minha enquanto acadêmico de Ciências Sociais será lida como uma demonstração de minha incapacidade de compreensão como um indivíduo normal. Minhas aspirações como pesquisador de diversas áreas serão comprometidas, meus interesses de pesquisa e minha militância por uma sociedade mais solidária com todas as formas de vida será compreendida como um produto derivado de meu sofrimento, pois é claro, serei lido como um "pobrezinho ser estranho e mal-formado" que precisa da compaixão das pessoas de bem. Afinal, eu sou considerado doente, transtornado mental e portanto menos (ou completamente não) capaz de graduar-me ou de realizar qualquer atividade intelectual. Meu corpo tem cicatrizes que serão objeto de curiosidade, contudo minha história tem mais e são elas que me fizeram ser tão persistente no desejo por uma outra sociedade. Serei exposto, humilhado, constrangido, ridicularizado, mas não ficarei acuado. Lutei e lutarei até meu último segundo, pelo meu direito de ser quem eu desejo e não me envergonharei abandonando minhas metas. Um conto pagão da história do rei Arthur fala de um rei destemido e heróico, Vortigen era seu nome, em sua última batalha ele teria chamado a atenção de seus soldados que fugiam na eminência de serem massacrados com um solene grito: "Voltem e lutem como bravos, de nada adianta a fuga, acaso vocês acreditam ser possível escapar da morte? Abracem-na e sejam glorificados!!!" Sendo assim, a seu comando seus soldados voltaram e não desistiram de sua luta. E sua bravura não foi esquecida. Com este exemplo, posso afirmar que poderá haver o dia em que me esconderei e fugirei da luta, mas com certeza não será hoje.

 Encaminho juntamente os vídeos que foram do caso das alunas vitimadas e a cópia do cartaz colado nos prédios da reitoria da UFPR. Agradeço desde já.

 http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1250882&tit=Alunas-de-Pedagogia-da-UFPR-denunciam-professora-por-racismo 

http://g1.globo.com/videos/parana/paranatv-1edicao/t/edicoes/v/nossos-reporteres-acompanham-um-caso-de-racismo-em-curitiba/1932586/""
***

Proposta de texto para ser enviada ao reitor da UFPR - gabinetereitor@ufpr.br (Escrita pela Prof. Drª Berenice Bento)
Magnífico Reitor da UFPR:

O estudante da UFPR, André Lucas, corre o risco de ser expulso por ter participado de atividades dentro da universidade em defesa de duas alunas que foram vítimas de racismo por uma professora.
A universidade abriu um processo contra André e ao fazê-lo publicizou a condição de aluno transexual. Além do absurdo de não apurar o caso de racismo, a universidade colocou o estudante em situações vexatórias. A comissão de sindicância mostrou a ficha acadêmica do estudante com seu nome civil e sua foto anterior ao processo de transição de gênero, além de perguntar sobre sua TRANSEXUALIDADE aos informantes que estão sendo ouvidos na comissão de sindicância. A UFPR, para abafar um caso de racismo, comete transfobia
 

Em anexo, carta do estudante com o detalhamento dos fatos.
 

Solicitamos:

1) A imediata suspensão da Comissão de Sindicância.
2) Instalação de Comissão de Sindicância para apurar as denúncias de racismo contra a professora.

Solidariedade? Muito mais: Unidade nas lutas!

E que venha a Marcha das Bananas!


COMENTÀRIO FINAL: Indiferente de minha relação de amizade com o André, a PERSEGUIÇÃO POLÍTICA E IDEOLÓGICA perpretada contra ele é um atentado à minguada inserção social da população TTT no meio acadêmico, é um desrespeito a toda população de travestis, transexuais e transgêneros de nosso pais, que buscam a igualdade e o acesso ao meio escolar. Precisamos tomar providências urgentes para impedir que um estudante reconhecidamente transexual seja expulso de um Universidade, meramente por não aceitar baixar a cabeça diante das injustiças sociais tão recorrentes neste espaço tão elitizado e heteronormativo que são sa Universidades brasileiras.


No closet

Desbundai e putiái!

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