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"Santo Olhar de Horror" ou "Todo CarnavAl tem seu fim"

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012.
Ave Butler! Hail Mott!

Post dedicado à minha amigona, Bárbara Trelha, pela sensibilidade e pelo texto maravilhoso. Presentaço!
Ao Rodrigo Reduzino (beeeeeeeeshaaaaa!!!), pela oportunidade de fazer essa doideira.
E à Thales Ornellas, por ficar me torrando o saco astral pra escrever sobre isso.

"Quem disse que temos que ter vergonha de nossos corpos?!?


O post de hoje é bastante especial. Vou apresentar aqui minha inesquecível participação no X Enuds (espero que tenha sido tão bom quanto foi pra vcs, fffff). desta vez resolvi tomar coragem e fazer uma performance, minha primeira, denunciando a transfobia, o cissexismo, e o processo de total desumanização ao qul se submentem as pessoas trans numa sociedade cissexsta. A apresentação vinha sendo gestada à vários anos, fruto de uma série inumerável de pequenas agulhadas, pessoas que, muitas vezes por ignorância, desinformação ou por pura maldade, insistem em catogorizar pessoas pela genitália. Gente covarde que não consegue assumir seus desejos e sequer para pra pensar que também sonhamos. E que somos, enquanto *TRANSgressorxs, violentadxs em nossos direitos mais íntimos e punidxs com o desprezo e a "perplexidade estratégica", muitas vezes por pessoas que se dizem e se acham "libertárias".
Consistiu na declamação de um poema biográfico, escrito pela minha amiga, cantora e poeta, Bárbara Trelha, e baseado em partes do meu cotidiano. Na verdade, como não tinha acesso ao texto orginal, acabei fazendo uma adaptação livre, colocando coisas que sent de dizer na hora. E acabei jogando o papel com o texto fora. Nada melhor que o orginal:


SANTO OLHAR DE HORROR
Os meus seios inventados por mim mesma não satisfaziam a vontade alheia de não permitirem EU parecer mulher.
Travesti filho da puta! Projeto de gente de merda, bichona esquizita! Coisa ruim! Filhote de cruz credo,’benza Deus’!Meu caralho! Os seios que eu não tinha não me traduziam feminina como eu quisera. Dulci, é o nome da coisinha? Dulcinéia de Quixote?! Há há há... grande bisca, isso sim. Isso é falta de pegar num cabo de inchada.
Os discretos seios produzidos pelos hormônios que eu bebo não dão conta do meu EU tão mulher.
Que nojo. Horror...que horror...
EU não nasci com seios. Não nasci prá ter lisas pernas, não nasci com predisposição prá uma cintura desenhada. Minha coluna com o tempo curvou-se, fruto do peso de carregar-me mulher num gene y que ganhei ainda no ventre de minha mãe inserido delicadamente pelo sêmen do meu pai.
Agora, EU: Ser híbrido prá sociedade faminta de paus e bocetas. Ser endemoniado prá sociedade de padres e igrejas sedentos de paus e bocetas. EU. Com pau. Sem boceta. Aparelhado por Deus, com pênis. Nem homem nem mulher: Trans-sexual. Sem cor, sem amor, à margem da gente toda que não grita mas me olha barulhenta:
Travesti filho da puta projeto de gente de merda bichona asquerosa filhote de cruz credo benza deus meu caralho isso é falta de pegar no cabo de uma inchada que nojo que horror que nojo que horror que horror que horror
Não sou nem homem nem mulher. Trans. Sem cor. transgênica.nem soja nem carne bovina.origem não vegetal. Só EU. EU na gente toda que quando sente nojo não sabe que também é um pouco do meu horror.
Meu pau não é seio. Entendo sobre o processo antropológico do homem em definir-se como gênero e padecer na definição. Minha alma não goza. -O mundo é porco. Eu também me apaixono. Sinto saudades da minha mãe, do cafuné da minha amiga Bárbara e de suas crianças me arrumando o cabelo sem ligar prá minha forma, minha falta de cor. -O mundo é porco. Não dou o cu. Deus sutilmente não aparelhou-me para receber. Não dou o cu, já que também não me dão nada além de um constante e santo “olhar de amor”. (Bárbara Trelha)


Tudo acabou ocorrendo muito de improviso, mas coloquei meu coração na intervenção. Na verdade, perdi as contas de quantas vezes desisti e des-desisti de fazê-la até que foi... no embalo da dor e da necessidade de por pra fora o sofrimento que me excruciava.
Pois bem, o evento acabou de novo. "Fiquei" e beijei muito. Foram 16 pessoas bacanas (eu contei). 16 vidas e mundos com os quais entrei em contato. 16 pessoas que provavelmente jamais verei de novo. Como me disse uma delas, antes do adeus, "vou por que o amor é livre". Concordo, mas as vezes, queremos mais. Alguma pessoas queremos levar pra casa
 O nariz de palhaço que usei no palco da UFRRJ, no dia da perfomance era o mesmo que usava em festas "cis" quando sentia que seria invisível, ou no maximo motivo de chacota. Era o mesmo que vestia para protestar nas ruas e nos bares, quando se viam no direito de dar risada de longe.

As vezes o respeito e a admiração não são suficientes...

Hoje, passados quanse um mês, tento recordar de cada voz, de cada sorriso, de cada boca que beijei. desta vez não tirei fotos- e acho que fiz bem. Mas continua o vazio no meu quarto e no meu peito. Persistem as visões sobre sonhos antigos que nunca se realizarão. Continua a saudade de uma companheira de anos que deixei em Curitiba, pra vir ao Rio atrás de uma paixão cada vez mais ilusória, e cujo nome não posso falar por que ainda não está "preparada" para me aceitar do jeito que sou, ou decidi ser, as minhas subversões.

Xs outrxs não se vêem "preparadxs" e nós é que sofremos a solidão de termos alçado vôo longe demais. Tirei o nariz de palhaço e ficou para trás, junto cOm alguns sonhos e com parte de miNha inocência naquEle palco. Perdi minha virgindade. Mas aceitei, passivx como sempre, os aplausos.

*A seguir um compacto da Mesa 2:Corpo político e subjetividade com um pedacinho da minha participação. filmado por Dudu Moreira. Desfrutem:
 No closet

Desbundai e putiái!
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