Ave Butler! Hail Derrida!
TEXTO QUE ESCREVI COM UMA AMIGA, PERFORMER PORNOTERRORISTA, A MARVEL NESSA (QUE NA VERDADE FEZ UMA TRADUÇÃO DO PREFÁCIO DO LIVRO "PORNOTERRORISMO" DE DIANA J. TORRES), PRA SER APRESENTADO COMO RESPOSTA E EXPLICAÇÃO DO ATO ULTRA-POLÊMICO NA JMJ- O TEMA MAIS POLÊMICO DO ANO DE 2013, ALIáS-, MAS QUE ACABEI DEVENDO PROS LEITORES:
A
Performance, enquanto arte, evidenciou-se nas décadas de 1960 e 70, apesar de
já haverem algumas manifestações anteriores, decretando o corpo como suporte da
obra de arte. Porém, o corpo não é apenas matéria-prima reduzida à exploração
de suas capacidades (exaltação de suas qualidades plásticas, medição de sua
resistência e energia, desvelamento de seus pudores, inibições sexuais e
perversões, seus poderes gestuais, etc), há a incorporação de aspectos sociais
e individuais, vinculados a transfomação do artista na sua própria obra, ou
seja, em sujeito e objeto de sua arte. A cultura nos leva a naturalizar
comportamentos, gestos, seqüências de ações; a performances trabalha com a
ausência de cristalização, ela particulariza o corpo como algo em potencial, em
que a partir do imprevisto o simples adquire inúmeras possibilidades. Frente a
um público que vive a ficção de seu próprio corpo, construída por rituais
sociais estabelecidos, o artista apresenta em oposição um corpo que é prazer,
sofrimento,dor e que a morte se inscreve. Dessa forma, ela perturba, rejeita,
nega os velhos valores estéticos e morais, produzindo um estranhamento com
imagens prévias de si próprio. Assim, através da transgressão, da mutilação, do
onanismo, da escatologia, da degradação moral e da quebra de tabus, são
realizadas denúncias, críticas e retira-se o espectador de um estado de
indiferença e passividade. Busca-se, assim, despertar a consciência do público,
retirando-o do ostracismo, através de uma experiência coletiva em que todos estão
expostos ao golpe, pois ali o corpo é o denunciador de uma ferida coletiva, ferida esta
portadora de uma metáfora do corpo.
“E como anti-arte, como arma de
ação direta, como ritual mágico de encantamento, como exorcismo público, como
máquina de guerra contra o aparato de captura da norma social hetero, como
potência visual - contra/semiosis - o PornoTerrorismo é um modo de, um como
construir um novo uso dos prazeres e reprogramar nossos desejos, um como
engendrar as novas paixões alegres que acrescentem às nossas riquezas
corporais, nossas potências imanentes, um como destruir as máquinas de
fabricação dos gêneros e assim gerar uma contraprodutividade desde o
prazer-saber.” (Manifesto Pornoterrorista Ludditas Sexuales)
La Violinista [Trailer] from Quimera Rosa on Vimeo.
No closet
Desbundai e putiái!
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TEXTO QUE ESCREVI COM UMA AMIGA, PERFORMER PORNOTERRORISTA, A MARVEL NESSA (QUE NA VERDADE FEZ UMA TRADUÇÃO DO PREFÁCIO DO LIVRO "PORNOTERRORISMO" DE DIANA J. TORRES), PRA SER APRESENTADO COMO RESPOSTA E EXPLICAÇÃO DO ATO ULTRA-POLÊMICO NA JMJ- O TEMA MAIS POLÊMICO DO ANO DE 2013, ALIáS-, MAS QUE ACABEI DEVENDO PROS LEITORES:
Sobre Pornoterrorismo (por Erzulie Medusa Byron)
As reações e o mal-estar causado pela polêmica performance na ultima
Marcha das Vadias de Copacabana, levada à cabo pelo Coletivo Coyote, nos colocaram
a necessidade de fazer alguns apontamentos importantes. Não importa de formas
contra ou à favor, o importante é que este julgamento deve ser minimamente embasado.
O que chamamos de Porno-Terrorismo s nada mais é do que
uma vertente mais politizada e violenta do pós-pornô, que busca propiciar
reflexões sobre gênero, sexualidade, Estado, opressões etc... a partir da
lógica do "tratamento de choque", mostrando à sociedade
heteronormativa aquilo que ela não deseja ver, que prefer jogar para baixo da tapete- nossos tabus e eneuroses. Neste sentido, este tipo de ato
artístico-político tem a mesma função das fotografias chocantes de crianças
esfomeadas da Africa ou das cidades, porém considerando não a fome
física, de ordem econômica, mas a repressão dos corpos e da sexualidade.
Mas o que é pós-pornô?
Muito confundido, inclusive em meios feministas da esquerda, com pornografia "machista e vulgar", trata-se de uma tentativa de quebra de paradigmas do modelo de sexualidade dominante, “pai-mamãe". De fato é uma critica bastante recorrente e acertada de que a pornografia tradicional é machista, falocêntrica e desvaloriza a sexualidade das mulheres.
Muito confundido, inclusive em meios feministas da esquerda, com pornografia "machista e vulgar", trata-se de uma tentativa de quebra de paradigmas do modelo de sexualidade dominante, “pai-mamãe". De fato é uma critica bastante recorrente e acertada de que a pornografia tradicional é machista, falocêntrica e desvaloriza a sexualidade das mulheres.
O modelo usual de pornografia segue uma lógica fixa, um script presumível: começa com uma estorinha (na maioria das vezes não tem
e quando tem, mostra a mulher como uma "presa fácil e bobinha"
destituída de libido e de vontade), passa-se à felação, ao sexo vaginal e
anal e termina num "gran-finalle", a ejaculação masculina. Com
pouquíssimas variações. Não precisa dizer que este modelo é heteronormativo,
pois entende o ato sexual como mera penetração. Mesmo quando se resume a
penetração oral, com a presença de travestis, masturbação, carícias entre
mulheres lésbicas, os mesmo elementos normativos estão presentes, para
empoderamento e deleite exclusivo do macho, sendo este o grande consumidor desse
filão.
Jà o pós-pornô se propõe, enquanto vertente de arte performática, usar
os corpos para destruir esta lógica. Se utiliza de elementos e sensações
praticamente desconhecidos pela industria pornô, sejam eles o uso de sons e
música "exótica", uso e ressignificação de objetos- como no
caso em questão de crucifixos e imagens, É visceralmente politica e
feminista porque busca desconstruir o sexo enquanto construção de
relações desiguais de poder- e não falamos somente de pornografia comercial já
que o sexo é onipresente nas relações sociais. Nossos corpos e desejos se tornam o campo de batalha, de repressão e libertação.
Assim, a perfomance polêmica da Marcha das vadias pode ser entendida sobre multiplos ponto-de-vista. Como arte seria a ressignificação de um tema religioso para apresentar uma mensagem que o extrapola. Façanha parecida foi feita numa versão da Santa Ceia com travestis, e as inúmeras versões polêmicas da Paixão de Cristo produzidas por Hollywwod. Como manifesto político, o icone religioso se transforma nas correntes que prendem o oprimido, candeia que precisam ser quebradas. Representa a repressão sexual imposta pela Igreja por séculos e paralelamente, um retorno ao sagrado feminino vilipendiado e amordaçado.O problema não é a imagem e sim o sexo.
Assim, a perfomance polêmica da Marcha das vadias pode ser entendida sobre multiplos ponto-de-vista. Como arte seria a ressignificação de um tema religioso para apresentar uma mensagem que o extrapola. Façanha parecida foi feita numa versão da Santa Ceia com travestis, e as inúmeras versões polêmicas da Paixão de Cristo produzidas por Hollywwod. Como manifesto político, o icone religioso se transforma nas correntes que prendem o oprimido, candeia que precisam ser quebradas. Representa a repressão sexual imposta pela Igreja por séculos e paralelamente, um retorno ao sagrado feminino vilipendiado e amordaçado.O problema não é a imagem e sim o sexo.
(parte da Nessa):
Marvel Nessa <3 |
Nestas ações o corpo ocupa
todos os lugares, este não é a sua arte, é antes a sua linguagem. Expõe-nos um
corpo aberto revelador de um sofrimento, é o testemunho de uma identidade, da
experiência perceptiva, de certo modo social, é um corpo que expõe, denuncia e
faz falar os mais íntimos segredos individuais e coletivos. Mas é precisamente por isso que o
corpo exposto se torna estranho: por ser carnal, biológico, humano e, não um
corpo idealizado pela perfeição. Não devido a uma artificialização ostensiva ou
à sua comunhão perfeita com a técnica, e nem à intervenção de algum misterioso
agente extra-mundano, mas é justamente por ser de carne e osso que ele se torna
medonho. Porque é um conjunto de vísceras que incrivelmente vivem, pensam e
sentem. E isso, por si só, serve para provocar um sentimento de estranheza com
relação ao que somos: uma desnaturalização da nossa corporeidade em sua brutal
condição anatômica, pateticamente finita e incompreensível.
O Pornoterrorismo - de Porné
(em grego, Prostitua pobre ou escrava) e Terrorismo (Sucessão de atos de
violência executados para infundir o terror) é, herdeiro desse viés artístico
embora em seu manifesto se coloque enquanto anti-arte.
Diana J.Torres |
“O
pornoterrorismo é ação e conceito. As ações requerem experiências para nos
empoderar, enquanto os conceitos projetam seu significado no tempo abrindo a
possibilidade de que, em algum momento, se questione sua aplicação, permitindo
ou levando a outro contexto. E ai reside seu potencial. [...] O pornoterrorismo
nos recorda nossa materialidade, nossa animalidade, nossa brutalidade e,
sobretudo, nossa sexualidade, nosso desejo. Mais ainda: nos diz que tudo isso
que cremos como nosso, é território colonizado, e que é nossa responsabilidade
expulsar o inimigo invasor. Ninguém virá nos salvar. O pornoterrorismo tampouco.
Mas que se atreva o tempo duro a desafiar o infinito de uma vagina e um bom
gel. [...] A História já nos demonstrou que a revolução é algo além de
barricadas ardentes, encarceramentos massivos e hordas enfurecidas. Nesses
tempos que vivemos, não há outra possibilidade de mudança radical que as
pequenas ações que cumprem com o princípio da teoria do caos. E se o bater das
asas de uma borboleta pode causar um tsunami no outro lado do mundo, me
regozijo de prazer e esperança ao pensar o que pode ocasionar uma orgia sobre
os cenários do mundo.” (tradução livre minha) -
( Diana J. Torres, no prefácio de "Pornoterrorismo)
Praquem se interessou e quer saber mais: http://pornoterrorismo.com/
( Diana J. Torres, no prefácio de "Pornoterrorismo)
Praquem se interessou e quer saber mais: http://pornoterrorismo.com/
No closet
Desbundai e putiái!