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Mea Maxima Culpa- "War is Over"

terça-feira, 18 de setembro de 2012.
ADENDOS IMPORTANTES: Primeiro, ao me retratr aqui, não faça nada mais que minha obrigação, enquanto ser humano. Segundo, trata-se de uma questão de bom senso, não quero que meu textos sejm lidos como apologia a qualquer forma de opressão, assim como não aceto piadinhas com cis-sexismo e transfobia. Temos que tratar os outros da mesma forma como gostarísmos de ser tratadxs
“A palavra que reténs entre os lábios, é tua escrava; a que soltas irrefletidamente é teu senhor.”

“As palavras não proferidas são flores do silêncio.”

(Ditados populares)

"Revolucionário é todo aquele que quer mudar o mundo e tem a coragem de começar por si mesmo"
(Sérgio Vaz)

Ola, caros leitores do blog Covil da Medusa.

O "post de hoje será muito especial e tem para mim um caráter histórico. Quando decidi começar a escrever, a idéia principal era criar um "Diário Trans Alternativo", que falasse sobre meus amores, meus embates políticos, minha aventuras.

Pensei muito em encerrar meu blog neste mesmo 'post', mas decidi ao menos dar um bom tempo nas atualizações. Pelo menos até recobrar minha conciência, me reequilibrar.

Pela primeira vez desde que trabalho atualizando blogs, consegui um site que realmente rendeu bons frutos na minha vida particular. Atualizar este espaço deu-me uma possibilidade imensa de expor meus pontos-de-vista, ler o posicionamento sobre temas polêmicos, desenvolver alguma capacidade argumentativa.
Porém o Covil as vezes me parece que já deu o que tinha que dar. O espaço que fora criado a priori para possiblitar discussões pacíficas, uma confraternização de ideias, acabou por perder este sentido.

Hoje, atualiza-lo me parece um grande peso desnecessário.Os ultimos três textos, "Carta  aberta a uma giganta", "É sexy ser machista" e "Teoria do Sexo Obrigatório" foram certamente minhas melhores realizações como blogueira até aqui. mas foram muito mais do que isto. Escrevê-los foi, além de um grande prazer, uma possibilidade unica e imperdível de promover um saneamento, uma catarse nos meus sentimentos mais profundos. Neles foram colocados pelos menos 15 anos de opressão, de incompreeensão, de  depressões e inconformismo, de choros que fora obrigadx a guardar.

 O presente blog não está mais dando conta de realizar aquilo que se propôs desde o início, fazer as pessoas pensarem além do senso-comum, mas ao contrário passou a ser perigosamente desrespeitoso. estou me referindo ao ultimo e polêmico texto, que optei por deletar e explicarei a justíssima razão a seguir. Tratava-se de um artigo criticando a ideia de consentimento nas sociedade contemporânea, que a priori me pareceu bem inocente. Na verdade, o objetivo era fazer resposta a um discurso que parece deveras errôneo sobre a sexualidade, a idéia de que a monogamia e relações "romanticas" seriam opressoras. Discordo veementemente desta teoria e aproveitei pra desabafar sobre a dificuldade de certas pessoas (eu inclusive) de encontrar um parceiro, alegando que a culpa pelo sofrimento destas pessoas seria o direito de serem escolhidas como carne num açougue.

Pois bem, muitos gostaram e "curtiram" no Facebook, algumas pessoas entenderam a proposta e o argumento, me deram parabéns, mas percebi que, apesar de ter conseguido expressar minha revolta com boa argumentação, algo não se enquadrava, o texto acabou por não me trazer a satisfação que esperava ao terminar  "uma grande obra". O fato é que algumas pessoas acusaram-me de fazer atravez daquele texto uma espécie de Apologia do Estupro. è óbvio que tal acusação não tem cabimento,mas pus-me a pensar: "se  uma pessoa diz estar sendo oprimidx pelo texto, então ela tem o direito de se colocar assim e ser respeitadx como tal".

Eu sei muito bem o que são traumas, e imagino, apesar de nunca ter sido estupradx, o tamanho das marcas e cicatrizes que isto causa. Tenho meus traumas também, talvez não da mesma intensidade, mas aprendi com a vida e a militância que a dor mais profunda é aquela que dói na gente. Minha infãncia fora marcada por uma grande inadequação, me lembro bem de ser uma criança solitária e que grande parte da minha pré-adolescencia minha melhor amiga era uma arvore velha na qual subia todos os dias ao pôr-do-sol para ver as crianças "normais" brincando na rua. Minha adolescêcia fora marcada por muita violência fisica. Lembro-me que em certos periodos eu costumava apanhar dos valentões do colégio todos os dias, enquanto as meninas "cis" davam risada da minha cara e depois saiam de mão dadas com os mesmos valentõess, enquanto os professores ficavam me "protegendo" e mimando para que fugisse das surras, na verdade me infantilizando e estigmatizando ainda mais. Nada como sentir na pele...

Hoje sou universitarix, acho que descobri a causa da minha inadequação, Bicho-Papão que "comeu" minha infancia e minha adolescência, descobri o por quê de me baterem tanto. Até hoje tenho sérias marcas físicas, desvios de coluna "cervicais", devido ao habito de andar olhando para baixo, com medo de encarar as pessoas e levar mais um chute. Hoje sinto-me sozinhx, com companheirxs maravilhosxs que não me entendem por que vim ao mundo sem um Manual de Instruções. Não compreendem que não há nada de errado comigo, mas sim com a sociedade que nos cerca. Que os pontapés que levamos pela vida são uma tentativa de jogar o lixo criado por esta mesma sociedade pra debaixo do tapete. Hoje provavelmente os algozes que destruíram minha infância estão ricos, têm suas companheiras e estão felizes com sua vidinha insossa. E eu tenho apenas esperanças, desejos nunca realizados e saudades da minha Arvore Companheira, um refugio que na minha imaginação se transfomava numa nave espacial que poderia me levar para uma galaxia muito distante, onde teria um Sabre de Luz igual ao dos Cavaleiros Jedi para me proteger dos trogloditas que não se cansavam de me assediar. As vezes me pego imaginando se minha nave já fora arrancada do chão, junto com meus sonhos perdidos.

Pois bem, sei o que são traumas, e justamente por isso, resolvi abrir mão daquele texto tão bem escrito, mas que poderia vir a causar muita dor às outras pessoas. Entendo agora que um material daquele, lido por algúem que sofra no cotidiano com lembranças violentas do passado pode lê-lo mesmo como um incentivo ao suicidio. Não quero ser x [Ir]reponsável por "ajudar" pessoas que sofreram no passado a acessar suas lembranças traumáticas e dar um tiro na própria cabeça. Por isso, resolvi deixar de ser egoísta e vitimista e abri  mão de um discurso sobre minha dor, um texto que falava sobre a dor humana da rejeição que para algumas pessoas (coincidentemente os que estão por baixo da Pirâmide da Respeitabilidade) é mais frequente e dolorosa. Uma dor que como qualquer outra não pode ser meramente naturalizada. Era pra ser um texto "queer" e "libertário"-dentro dos meus conceitos- mas se tornou para mim, uma dor-de-cabeça.

Cresci muito desde que comecei a postar aqui. Estou aprendendo a lidar melhor com meus desejos e sentimentos, a me relacionar melhor com os outros, descobrindo novas maneiras de amar. E isto sinto ao reler cada postagem, cada argumento.

Mas desejo do fundo do coração vir a publico pedir perdão caso alguém tenha se sentido lesado por meus textos, especialmente aquele sobre consentimento, que já foi devidamente deletado como forma de "reduzir possiveis futuros danos a terceiros", e o tonarei disponível apenas por -e-mail (basta me pedirem, ok?). Perdoem-me se fui irresponsável e infeliz, sei  e aprendi na pele que com a dor dos outros não se brinca.

Obrigadx pela atenção e pela paciência

No closet

Desbundai e putiái!

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