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Alerta às famílias: Orgia esquerdista na UNESP !

quarta-feira, 19 de setembro de 2012.
Saudações aos caros leitores deste blog,

Venho através do pressnte artigo denunciar os atos imorais que vêm ocorrendo no longinqua UNESP de Araraquara. Pelo material que a mim me fora confiado, parece que um grupo de estudantes daquela nobre instituição andaram cometendo libidinices em plena Moradi Estudantil, atrapalhando o sono e atividades acadêmicas dos estudantes colegas (aqueles que vão à Universidade para ES-TU-DAR). Abaixo, transcreve-se a Carta de Defesa dos acusados. A Carta de Acusação foi-nos perdida, e a versão oficial dos heróis defensores da moralidade brasileira provavelmente não nos será  Notem a impudência e o vocabulário chulo dos bacantes:

Na moradia, o que aconteceu foi o seguinte,durante as férias os blocos(as casas) O e P, tiveram que passar por uma reforma,e enquanto esta reforma não saiu,tivemos que dormir no chão com os colchões, em outros blocos,algumas pessoas conseguiram camas,mas esse não foi o meu caso.

Enfim,no dia 10 de Agosto, recebemos as chaves,pois a reforma havia terminado.Alguns antigos moradores voltaram, e trouxeram pessoas de outros blocos pra morarem junto,já que outros antigos moradores conseguiram se instalar permanentemente em outras casas. Essas pessoas, foram fazer a limpeza dos quartos para depois ocupa-los,inclusive a Jó, que está sendo sindicada também(no total são seis pessoas sofrendo o processo) fazia parte desta galera que estava fazendo a limpeza e é valido ressaltar que foi ela que limpou boa parte da casa.Pois bem,acabaram vindo pessoas que não iriam morar nas casas e compramos bebidas e ficamos na sala.E o som de vinil também estava ligado.Conversa vai,bebida vem, neste meio tempo a galera da faxina do Ó já tinha ido embora, ficando somente a Jô.Acabamos ficando pelados,todo mundo se beijando , e rolou sexo na sala, com as pessoas que estavam na "festinha".Teve um casal que resolver ir para o quarto pra transarem a dois, ai a galera estava socializando o role e todos tiveram a ideia de ir no quarto onde eles estavam,o casal havia entrado no  Ó, em um quarto aleatório que não havia sido ocupado de fato,havia só uma mala, de uma das pessoas -a mala sobreviveu a nossos atos profanos.

Como todos sabem, depois que um disco de Vinil acaba, tem que virá-lo, pra continuar,mas como ninguém mais estava na sala, o som acabou neste momento.E o sexo se procedeu no quarto .Quando chegou duas pessoas R2 e R1,com cara de indignados ,perguntando o que estava acontecendo, e eu chamei eles para participar-quanta heresia- eles acabaram  ficaram bravos e disseram que estávamos incomodando o pessoal da casa de cima com o barulho-acho que os gemidos estavam acima de dez decibéis srs .fechamos a porta e a porta foi chutada e depois eles retornaram mandando grosseiramente  sairmos do quarto,saímos do quarto e fomos para o do lado que seria o quarto da Jó quando ela o ocupassem. Rolou uma discussão depois(acredito que daqui tenha vindo o barulho que algumas pessoas reclamaram,estávamos todos de ambas as partes  exaltados,e eu indignada) .E uma terceira pessoa aleatória,autor da carta,que havia sido chamado pelos dois, apareceu e disse que "estávamos de sacanagem com a cara dela".Resolvemos então ir para o bloco Q, e terminamos nossa noite prazerosa -as arvores do bosque que temos da qual as janelas da casa são voltadas, não reclamara dos gemidos.

No dia seguinte, veio a surpresa, M. (o aleatório, dono da mala e autor da carta),R1. ,R2. e mais absurdo ainda D.,escreveram uma carta,protocolaram e foi parar nas mãos da direção.Até este momento, a critica que gerou em relação a essa carta( para nós sem fundamento e completamente moralista) foi que ela ,acabava com um árduo processo de autonomia que estava e esta se construindo na moradia. Após muitos anos sem comissão, uma foi formada,e levar desentendimentos como esse pra fora da moradia, sem ser discutido internamente , retira autonomia e nos coloca como incapazes de resolver problemas interno.Foi consenso que a carta era um erro e que inclusive M. e R1, disseram que anulariam a carta, mas que disseram que teríamos que conversar com o R2, que não apareceu na assembleia ,e disse que só faria uma conversa com os envolvidos ,caso tivesse o presidente da comissão - um professor da graduação de economia, que não tem mais nada pra fazer da vida e pode sim,fazer reuniões como essa- discordamos,pois essa feria a tão sonhada autonomia .

Está carta deixou de ser nossa preocupação, queríamos era resolver a reeleição de uma nova comissão, que a direção queria, para estar de acordo com o regimento.E ontem , dia 17/09, chegou a carta do processo de sindicância. No qual a direção , devido uma carta ( de três alunos, em uma moradia de 100 pessoas) está  disposta apurar o ocorrido:
"Fica instaurado o Processo de sindicância com a finalidade de apurar procedimentos irregulares dos discentes fulano, sicrano..que na noite de 10 de AGOSTO de 2012, efetuaram barulho,ingeriram bebida alcoólica no interior da moradia estudantil , praticaram ato obsceno e sexual em grupo perante as pessoas." [vulgo orgia, no linguajar popular viu gente]
E mais uma ultima coisa, M. e R1, não moram mais aqui, apenas o R2 e o D., que até ontem não sabíamos que tinha assinado a carta,Houve também a alegação de ocupação proposital da casa Ó.A sala foi limpada pelos promíscuos no dia seguinte,nenhum dos que denunciaram tiveram que fazer isso, e desistiram de morar no O. E só fomos ter acesso a carta que eles escreveram, ontem,pois até então não sabias o que tinha na carta.Sexo,festa e bebida alcoólica, sempre aconteceu nas moradias, se a moda pega, não sobra um.E fizemos palavras de ordem sim:" Sexo sim, moralismo não"

Sobre o R1:

Depois dessa carta ter vindo a tona, ficamos sabendo de problemas em relação ao R1 que é machista e homofóbico,  porque chama as meninas da sua casa de vagabunda por levarem pessoas com as quais estão ficando.E quando deixa bilhetes a um rapaz da casa em que mora, que é gay, coloca prezada ao invés de prezado, e fala mal dele por ele já ter levado rapazes na casa.Todos querem que ele saia, mais ele se recusa a sair.Sobre os comportamentos absurdos do R1, eu fiquei sabendo recentemente, e o pessoal do bloco disse que está disposto a levantar essas questões sobre ele na Assembleia que será realizada nesta próxima carta do dia 19/09

Enfim, é isso, posso ter me esquecido de algo,caso o tenha, complemento depois.Mas o bom é que o pessoal da faculdade não apoia a atitude destas três pessoas que não tem sequer apoio dos moradores, a assembleia anterior já mostrou isso.
Notem só o abuso do texto, os autores chegam a caçoar da nobre instituição. Não a toa que estão sendo indiciados por "perturbação do trabalho e do sossego alheios". nada mais justo, afinal é muito dificil estudar ou dormir com um "ronki-ronki" dos infernos no seu lado. Tudo isso é coisa desse maldito PT e de sua lider meretriz, abortista e cumunista que ora se assenta no trono do Palacio do Planalto. É preciso expurgar tal corja de nossa pátria, antes que seja tarde. Inicia-se com a deterioraçao de nossos costumes no espaço acadêmico de nível superior e, muito em breve, estaremos estimulando as criancinhas em idade pré-escolar na arte da felação
.
 Da proxima vez que forem fazer orgias, façam-nas no recônditos de vossas casas, ou em locais privados dedicados a tais fins (vulgo "moteís") caros universitários!

Não desmoralizem nossas familias!

(Indignações)
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Mea Maxima Culpa- "War is Over"

terça-feira, 18 de setembro de 2012.
ADENDOS IMPORTANTES: Primeiro, ao me retratr aqui, não faça nada mais que minha obrigação, enquanto ser humano. Segundo, trata-se de uma questão de bom senso, não quero que meu textos sejm lidos como apologia a qualquer forma de opressão, assim como não aceto piadinhas com cis-sexismo e transfobia. Temos que tratar os outros da mesma forma como gostarísmos de ser tratadxs
“A palavra que reténs entre os lábios, é tua escrava; a que soltas irrefletidamente é teu senhor.”

“As palavras não proferidas são flores do silêncio.”

(Ditados populares)

"Revolucionário é todo aquele que quer mudar o mundo e tem a coragem de começar por si mesmo"
(Sérgio Vaz)

Ola, caros leitores do blog Covil da Medusa.

O "post de hoje será muito especial e tem para mim um caráter histórico. Quando decidi começar a escrever, a idéia principal era criar um "Diário Trans Alternativo", que falasse sobre meus amores, meus embates políticos, minha aventuras.

Pensei muito em encerrar meu blog neste mesmo 'post', mas decidi ao menos dar um bom tempo nas atualizações. Pelo menos até recobrar minha conciência, me reequilibrar.

Pela primeira vez desde que trabalho atualizando blogs, consegui um site que realmente rendeu bons frutos na minha vida particular. Atualizar este espaço deu-me uma possibilidade imensa de expor meus pontos-de-vista, ler o posicionamento sobre temas polêmicos, desenvolver alguma capacidade argumentativa.
Porém o Covil as vezes me parece que já deu o que tinha que dar. O espaço que fora criado a priori para possiblitar discussões pacíficas, uma confraternização de ideias, acabou por perder este sentido.

Hoje, atualiza-lo me parece um grande peso desnecessário.Os ultimos três textos, "Carta  aberta a uma giganta", "É sexy ser machista" e "Teoria do Sexo Obrigatório" foram certamente minhas melhores realizações como blogueira até aqui. mas foram muito mais do que isto. Escrevê-los foi, além de um grande prazer, uma possibilidade unica e imperdível de promover um saneamento, uma catarse nos meus sentimentos mais profundos. Neles foram colocados pelos menos 15 anos de opressão, de incompreeensão, de  depressões e inconformismo, de choros que fora obrigadx a guardar.

 O presente blog não está mais dando conta de realizar aquilo que se propôs desde o início, fazer as pessoas pensarem além do senso-comum, mas ao contrário passou a ser perigosamente desrespeitoso. estou me referindo ao ultimo e polêmico texto, que optei por deletar e explicarei a justíssima razão a seguir. Tratava-se de um artigo criticando a ideia de consentimento nas sociedade contemporânea, que a priori me pareceu bem inocente. Na verdade, o objetivo era fazer resposta a um discurso que parece deveras errôneo sobre a sexualidade, a idéia de que a monogamia e relações "romanticas" seriam opressoras. Discordo veementemente desta teoria e aproveitei pra desabafar sobre a dificuldade de certas pessoas (eu inclusive) de encontrar um parceiro, alegando que a culpa pelo sofrimento destas pessoas seria o direito de serem escolhidas como carne num açougue.

Pois bem, muitos gostaram e "curtiram" no Facebook, algumas pessoas entenderam a proposta e o argumento, me deram parabéns, mas percebi que, apesar de ter conseguido expressar minha revolta com boa argumentação, algo não se enquadrava, o texto acabou por não me trazer a satisfação que esperava ao terminar  "uma grande obra". O fato é que algumas pessoas acusaram-me de fazer atravez daquele texto uma espécie de Apologia do Estupro. è óbvio que tal acusação não tem cabimento,mas pus-me a pensar: "se  uma pessoa diz estar sendo oprimidx pelo texto, então ela tem o direito de se colocar assim e ser respeitadx como tal".

Eu sei muito bem o que são traumas, e imagino, apesar de nunca ter sido estupradx, o tamanho das marcas e cicatrizes que isto causa. Tenho meus traumas também, talvez não da mesma intensidade, mas aprendi com a vida e a militância que a dor mais profunda é aquela que dói na gente. Minha infãncia fora marcada por uma grande inadequação, me lembro bem de ser uma criança solitária e que grande parte da minha pré-adolescencia minha melhor amiga era uma arvore velha na qual subia todos os dias ao pôr-do-sol para ver as crianças "normais" brincando na rua. Minha adolescêcia fora marcada por muita violência fisica. Lembro-me que em certos periodos eu costumava apanhar dos valentões do colégio todos os dias, enquanto as meninas "cis" davam risada da minha cara e depois saiam de mão dadas com os mesmos valentõess, enquanto os professores ficavam me "protegendo" e mimando para que fugisse das surras, na verdade me infantilizando e estigmatizando ainda mais. Nada como sentir na pele...

Hoje sou universitarix, acho que descobri a causa da minha inadequação, Bicho-Papão que "comeu" minha infancia e minha adolescência, descobri o por quê de me baterem tanto. Até hoje tenho sérias marcas físicas, desvios de coluna "cervicais", devido ao habito de andar olhando para baixo, com medo de encarar as pessoas e levar mais um chute. Hoje sinto-me sozinhx, com companheirxs maravilhosxs que não me entendem por que vim ao mundo sem um Manual de Instruções. Não compreendem que não há nada de errado comigo, mas sim com a sociedade que nos cerca. Que os pontapés que levamos pela vida são uma tentativa de jogar o lixo criado por esta mesma sociedade pra debaixo do tapete. Hoje provavelmente os algozes que destruíram minha infância estão ricos, têm suas companheiras e estão felizes com sua vidinha insossa. E eu tenho apenas esperanças, desejos nunca realizados e saudades da minha Arvore Companheira, um refugio que na minha imaginação se transfomava numa nave espacial que poderia me levar para uma galaxia muito distante, onde teria um Sabre de Luz igual ao dos Cavaleiros Jedi para me proteger dos trogloditas que não se cansavam de me assediar. As vezes me pego imaginando se minha nave já fora arrancada do chão, junto com meus sonhos perdidos.

Pois bem, sei o que são traumas, e justamente por isso, resolvi abrir mão daquele texto tão bem escrito, mas que poderia vir a causar muita dor às outras pessoas. Entendo agora que um material daquele, lido por algúem que sofra no cotidiano com lembranças violentas do passado pode lê-lo mesmo como um incentivo ao suicidio. Não quero ser x [Ir]reponsável por "ajudar" pessoas que sofreram no passado a acessar suas lembranças traumáticas e dar um tiro na própria cabeça. Por isso, resolvi deixar de ser egoísta e vitimista e abri  mão de um discurso sobre minha dor, um texto que falava sobre a dor humana da rejeição que para algumas pessoas (coincidentemente os que estão por baixo da Pirâmide da Respeitabilidade) é mais frequente e dolorosa. Uma dor que como qualquer outra não pode ser meramente naturalizada. Era pra ser um texto "queer" e "libertário"-dentro dos meus conceitos- mas se tornou para mim, uma dor-de-cabeça.

Cresci muito desde que comecei a postar aqui. Estou aprendendo a lidar melhor com meus desejos e sentimentos, a me relacionar melhor com os outros, descobrindo novas maneiras de amar. E isto sinto ao reler cada postagem, cada argumento.

Mas desejo do fundo do coração vir a publico pedir perdão caso alguém tenha se sentido lesado por meus textos, especialmente aquele sobre consentimento, que já foi devidamente deletado como forma de "reduzir possiveis futuros danos a terceiros", e o tonarei disponível apenas por -e-mail (basta me pedirem, ok?). Perdoem-me se fui irresponsável e infeliz, sei  e aprendi na pele que com a dor dos outros não se brinca.

Obrigadx pela atenção e pela paciência

No closet

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Carta aberta á uma gigante lupina- Leonor Silvestri

sábado, 1 de setembro de 2012.
Ave Butler! Hail Mott!

"Na multiplicidade do libertário habita a multiplicidade do romântico. O problema é que no mundo e no fundo nos acostumamos ao binarismo:ou romântica ou libertária" (Fátima Lima)

Saudações lupinas e lúdicas!

Em primeiro lugar peço-te desculpas por escrever este texto na meu próprio idioma, mas minha proficiência no espanhol é deveras restrita.Creio ser conveniente me apresentar. Meu nome “de guerra” é Erzulie Medusa Byron. Erzulie em homenagem á deusa vodu e como símbolo de ruptura com a cultura judaico-cristã.  Medusa para representar meu apreço, infelizmente  cada dia mais desgastado, com a luta feminista: o monstro mitológico que petrifica os homens, o símbolo perfeito da Ira feminina . E por fim, Byron, em alusão ao famoso poeta e a indicar meu comprometimento com a sensibilidade e o respeito ao sentimento e os desejos alheios. Como podes perceber, uma mesma pessoa, dotada de inúmeras  qualidades.
Ainda não tive a oportunidade de conhecê-la pessoalmente, ou o “desprazer” como as vezes gostaria de sentir, o que seria uma mentira. Como se diz na minha terra, por algum motivo “meu santo bateu com o teu”, ao ver por videos as tuas performances. Sou militante transgênerx e assim como a colega venho trabalhando nos espaços políticos com o debate Queer.

Não faço Política Queer por esporte ou por que acho bonito e contestador , mas sim por que a sociedade hétero-capitalista me obriga a tal. Enquanto os coletivos cis-gêneros como o teu insistem que “estamos engatinhando neste debate”, nós, a chamada militância TTT, estamos correndo, aliás, nadando, em subversões de gênero. Como diz uma amiga minha e igualmente lutadora, a conhecidíssima Maitê Schneider, “quando atravessamos a rua para comprar pão, já estamos militando”.

Lamento e me entristeço ao perceber que a Queer Theory tem limitado seu alcance a poucos espaços acadêmicos e pequenos coletivos de cultura alternativa. Nada contra a chamada cultura underground, a qual apoio e com a qual me identifico profundamente, mas não se pode limitar o acesso a um debate tão importante a pequenos grupos de iluminados. De fato, tais discursos têm se incorporado estratégicamente a grupos anarco-punks, como forma de contestar a lógica dominante, assim como o sentimentalismo têm sido usado como arma há décadas por emos, pós-punks e góticos (ao menos os mais clássicos),  contra a mesma burguesia mecanizada. Mas falaremos sobre isso mais adiante.

 Aqui, trata-se de defender que os discursos sobre a relativização/subversão do gênero devem alcançar igualmente a velha senhora ouvindo guarânia em seu radinho de pilha, em sua cadeira de balanço, imaginando de sua velha choupana em algum lugar no interior da Argentina,  o por quê de sua vida sexual ter sido sempre uma desgraça. Deve atingir o garoto pobre e raquítico que não sabe o porquê de apanhar todos os dias na escola de seus colegas grandalhões, mas que descobrirá que sua performance não está de acordo com o esperado pela sociedade cissexista, e que era esse o seu único crime.
(Este exemplo me é muito caro, por ser autobiográfico)

A Teoria Queer consiste em recolher o refugo social da comunidade e transformá-la em música, atirando-a em forma de critica a sociedade que o criou. Tal processo nós, os pejorativamente chamados “românticos” inventamos, ainda no século XIX. Multitudes, desválidos, deformados, tatuados, revolucionários, libertários, boêmios, mulheres, trabalhadores, lúmpen (enquanto massas e classe perigosas) são criações da geração hugoana. 

Pois bem,  venho a publico dar resposta a um artigo que encontrei em teu blog, intitulado “A Éticado Desejo Libertário”(2) (AQUI DISPONIVEL). Minha principal qualidade é a franqueza e a honestidade exacerbadas. Sempre digo o que penso, da forma mais educada possível ( não ser quando estou apaixonadx,pois ai as pernas ficam bambas e gaguejo muito). Admito que cheguei a ensaiar um artigo bem maroto e escrachado para apresentar aqui, mas percebi que não conseguiria defender um estilo de vida baseado na gentileza, sendo descortês. O debate deve ser encarado com toda seriedade e maturidade que merece e para isto cá estou.
Penso que podemos passar por cima de algumas supostas contradições no teu texto. Por exemplo, não entendi por que nos acusa (os românticos) de promovermos uma cultura do sofrimento e paradoxalmente, com toda razão  ao meu ver, destece uma critica à ditadura da felicidade.

Vamos direto a raiz do problema: o tal artigo é repleto de argumentos ad hominen, de acusações infundadas e levianas. De nada adianta chamar-nos de “doentes sociais” nos acusando de um “vicio burguês” como diziam os marxistas, se a sociedade hétero-burguesa, “tão nossa amiga”, se utiliza do mesmo vocabulário para nos estigmatizar,  medicalizar, dopar, para nos recolher a grupos de apoio psicossocial, ao exemplo do MADA(2)no Brasil. Se estamos a serviço da burguesia, poderiam por obséquio alertá-la? Pois continua nos perseguindo ferozmente mesmo passados vários séculos.  Podemos passar por cima também do psicologismo e das teorias anti-sentimentalóides encomendadas pela burguesia, o afã de definir, via-patologização, como devemos nos relacionar com nossxs amantes?Gracias.

Nós tendemos a entender que o tal Desejo Libertário e não o Amor Romântico é capitalista por excelência, por que reafirma, através de sofisticados processos de reconceituação e engenharia lingüística, as mesmíssimas relações de poder  engendradas pela burguesia neo-liberal, que lucra com a superficialidade das relações afetivas e familiares, conforme já apontado por Zygmunt Baumann. E, se as “virtudes burguesas” ficam de fora do sistema de empoderamento do desejo,apenas são estratégicamente trocadas por outras mais “libertárias”. “Sexo é poder” e sempre será.

Sim, a tal acusação é uma via de mão dupla. A recíproca infelizmente é verdadeira. Parece que o Desejo Libertário na pratica é tão opressor quanto o Amor Romântico. Só depende de que lado da gangorra você está.

NÃO pregamos a monogamia, apenas não a reprimimos e censuramos, justamente por acreditar que todas as formas de amar são igualmente válidas. E aplaudiremos caso alguém decida por espontânea vontade se manter fiel a uma única pessoa, como fazem os lobos solitários. Afinal, fidelidade aos próprios princípios é uma virtude muito rara em nossos dias.   NÃO defendemos a família nuclear, até por que na prática ela não existe mais. Só não impomos o ideário da troca de laços familiares, cada vez mais ralos, por uma matilha ou uma manada. Confrontamos violentamente o machismo, rompemos na prática as barreiras do gênero,  pois nossos companheiros são incentivados a expor seus sentimentos, numa sociedade sexista que insiste no dogma patriarcal segundo o qual “meninos não choram”. E os autores que a colega apresenta em seu texto para nos caluniar NÂO são românticos, são bregas.

O que mais me preocupa no teu discurso é o uso de insinuações de caráter moral. Falas que idiotizam e infantilizam o outro estão presentes em discursos de ódio e inferiorização. Não convêm pôr em duvida a ética do interlocutor  numa disputa e DE MODO ALGUM  estamos de lados opostos na militância.O capitalismo sempre tirou vantagem deste tipo de discurso de segregação e o está pondo em prática mais uma vez. É uma armadilha na qual todxs insistimos em continuar caindo! Estão pondo em nossas mentes uma falsa dicotomia “anarquistas libertárixs trogloditas versus libertinxs românticxs bobalhões” e estamos caindo como idiotas. E errando, desrespeitando de ambos os lados, nossos aliados e companheiros em potencial.

E aqui faço um desabafo: sinto que estou perdendo aos poucos a amizade de pessoas que por algum motivo se tornaram bastante importantes para mim, grande parte delas membros do teu Coletivo, devido meramente a esta estupidez, esta nossa miopia política. Não convém a pessoas que se reivindicam libertárias e contra qualquer tipo de opressão, permitir que amigos se separem meramente por discordarem. Isto não é libertário, tampouco romântico. É segregação. A mais pura babaquice. Radicalismos invariavelmente descambam em autoritarismos. Separam pessoas. Engessam idéias.  São chatos e brochantes.

Lúdicos chamam-nos de opressores e idealistas. Românticos acusam os libertários de serem insensíveis,  autoritários e niilistas. No fundo queremos todxs uma mesma coisa, não importa que nome/conceito demos a ela. Não importa se cultuamos alguma espécie de sentimentalismo, ou se preferimos algo menos “meloso”, menos idealizado. Enquanto seres humanos, necessitamos de amizade, respeito, carinho, afeto, tesão, fantasias. E somos todxs igualmente dignos da felicidade. Felicidade, alíás, que não é um fim, mas um principio e um meio, um triste caminho que nos vemos na obrigação de ajudar a florescer.

Temos falado efusivamente  sobre uma mesma coisa, com vocabulários diferentes e de diversos lugares de fala. E compreender isso é requisito sine qua non para nossa vitória politica. Sem romantismo, não há libertarianismo(e vice-versa). Sem paixão, não há revolução.

Nosso inimigo em comum é a burguesia mecanizada que poda nossos sonhos e molda nossos desejos, que nos robotiza e coisifica a todxs, todo o tempo, sem excessão, sem trégua nem piedade.

Pela primeira vez desde que comecei a militar contra as opressões de gênero- e faz já um bom tempo- sinto um cheiro diferente no ar, sinto um cheiro de Revolução. Gostaria que todos se sentassem em seus camarotes para assistir a chegada do novo. Ou melhor, que descessem para dançar conosco. Peço à nobre platéia que feche os guarda-chuvas, se encharque, se lambuze e sacie-se, pois findou-se o Estio e a Seara será tão grande quanto o poder de nossa Imaginação.

Desejo conhecer melhor o trabalho do Coletivo Ludditas Sexxualis, admito que achei muito rica e poética a expressão “Te sinto como uma irmã siamesa desprendida de minha mesma entranha”, mas admitamos, não passa de um eufemismo para a palavra proibida- e seu conceito: “Amor”. (Lúdicos jamais nos enganarão com seus jogos de palavras e sua 'Novilíngua', hehehe).

Eis uma mão neo-romântica estendida, humildemente propondo trégua e aliança nas lutas. Perderemos todxs se esta for mais uma história de Amor (político) não correspondido.

Carpe Diem!

Erzulie Dorothea Medusa Byron



NOTAS:

(1)Alusão ao artigo “Gigantas, casas, ciudades”, de Beatriz Preciado, que versa  sobre o agigantamento feminino como símbolo do medo da ruptura feminina com o espaço doméstico nos anos 1950.

(2) Informaram-me, à posteriori, que tal artigo alude a uma publicação recentíssima da Editora Milena Caserola, intitulada "Ética amatoria del deseo libertarioy las afectaciones libres y alegres". Que estou devorando com apetite e carinho. Disponível para download em: http://pt.scribd.com/doc/104422336/Etica-amatoria-del-deseo-libertario-y-las-afectaciones-libres-y-alegres

(3)MADA: “Mulheres que Amam Demais Anônimas”. Grupo “terapêutico” de apoio mútuo, baseado nos moldes e técnicas dos Alcoólicos Anônimos e dos Narcóticos Anônimos. 



*Segue video de evento ocorrido no ano passado, com a participação da nossa colega Leonor Silvestri. Tamém discordei de muita coisa, mas isso é matéria para próximos posts.



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