Mas é carnaval
Não me diga mais quem é você
Amanhã, tudo volta ao normal
Deixe a festa acabar
Deixe o barco correr
Deixe o dia raiar
Que hoje eu sou
Da maneira que você me quer(Chico Buarque- Noite dos Mascarados
*ESTE ARTIGO É UM OFERECIMENTO DE CERVEJA ARTESANAL KRULOWA- "A ÚNICA QUE DESCE NA FORMA DE LOSâNGULO INVERTIDO, MAS QUANDO CHEGA NO ESTRÔMBULO FICA UMA DILIÇA"- AGORA TAMBÉM NO SABOR CARAMELO.
Ave Mott! Hail Butler!
Hoje vou falar sobre dois temas que considero complementares: carnaval e preconceito.
Em primeiro lugar quero deixar evidente que não tenho absolutamente nada contra a Festa da Carne, muito pelo contrário, um dos meus sonhos de consumo para os próximos anos é sair como Madrinha de Bateria na Salgueiro ("Explode coração...) só preciso dar um chega-pra-la numa feiosa despeitada que insiste em ficar no meu lugar, mas malvadezas a gente discute nos proximos posts. Além disso, decidi sair como "madrinha da machada" na ala dos mortinhos do Carnaval de Coré-Etuba, afinal se tem uma coisa que é tradicional no carnaval curitiboka é o clima de velório
Bem como todos sabem o BraZil é "País do Carnaval", pelo menos no discurso da Rede Globo, do grande capital e das agencias de turismo. Mas o que tenho pra apresentar hje como critica é justamente aquilo que é a alma, a razon de vivre da festa. Originaria na época das cavernas, quando os foliões desfilavam nas avenidas de rocha lascada em cima de carros alegóricos puxados por brontosauros (meu professor criacionista ensinou isso em sala-de-aula, não passem por cima da autoridade dele) esses verdadeiros pesadelos dos moralistas sempre se proporam a permitir que as pessoas "dessem vazão a seus desejos e pudessem ser quem quisessem".
Não vou me ater a criticas a alienação política que tem lugar nesta data. A imagem que abre este post já me basta para tal fim e é auto-explicativa. Ao invés disso, partirei de outro tipo de denuncia. Para complementar eu publico aqui um belissimo clipe do eterno Renato e sua Legião. Que venham as plumas e paetês.
Minha questão é por que as pessoas tiram um dia no ano para fazerem aquilo que deveriam fazer a ano todo (ser elas mesmas)?Para a mim o Carnaval poderia disputar com o Natal o título de "Festa da Hipocrisia" ou "Festival dos Enrustidos". E pior que a séculos toda essa licenciosidade é seguida por um bando de religiosos que levam 40 dias de abstinência e de orações só pra se auto-flagelarem dos pecados que cometeram no presente final de semana.
Mas minha critica tem um rumo. Ontem recebi via Facebook mais uma noticia que evidencia o nivel de abuso conservador nas escolas de nosso páis, o país do carnaval, das mulatas, do samba e da liberdade. Uma garota foi expulsa do seu colégio por aparecer de cabelo colorido (!!!), e isso porque já se passaram mais de 20 anos do final oficial da Ditadura em nosso país. E pior, o pai da garota, com a subserviência dela (lógico, familia é a deleg... digo, célula-mater da sociedade) ainda se disse preocupado com o prazo "exiguo" que o sargento diretor da instituição havia dado para que a menor pintasse seu cabelo de preto.
Meu caro senhor (pai da garota), o senhor tinha era que ter ido a uma Delegacia de Policia registrar queixa, o tal diretor descumpriu pelo menos uma clausula da Artigo V da CF que diz que "ninguem será obrigado a fazer ou deixar de fazer nada, exceto por força de lei" e não existe absolutamente nenhuma lei que proiba a pessoa de usar cabelo da cor que lhe apetecer. Isso é um ultraje a todos nós que admiramos cabelos caloridos, um evidente ataque contra nossa liberdade de expressão e liberdade intelectual-isso é ETNOFOBIA! Ou o sr. poderia simplesmente mandar com todo carinho uma revista de moda que demonstre que a forma de se vestir e se apresentar mudaram muito depois dos anos 50 e da época de Getulio Vergas.
Outra coisa que me estarreceu foi a insistencia da vitima em protestar o seu "direito de ser adolescente". Isso é patético, todos os cidadãos brasileiros deveriam ter o direito de ter suas madeixas brancas, pretas, verdes, roxas, arco-iris, vermelho-vampiresco, cor-de-burro-quando-foge, lisos, espetados, carecas, Hare-khrishna, e CASO NOSSAS LEIS FOSSEM RESPEITADAS, não sofrer nenhum tipo de represália, seja no espaço escolar, profisional, social, intelectual. Este tipo de atitude repressora viola a integridade do corpo da pessoa, indiferente da idade desta.
Tenho 33 anos, desejo pintar minha madeixas de verde, cobrir meus braços de tatuagens e fazer a tão falada e mal-compreendida "cirurgia de mudança de sexo". E não por ser "adolescente"-acho que sou um pouco velha pra isso- mas por entender que meu corpo e minha vida pertencem exclusivamente a mim e estão a disposição de meu gozo pessoal e não de uma instituição (igreja, escola, mercado de trabalho). A fala de que a menina em questão tem o "direito de ser adolescente" não mais é do que o velho discurso hegemõnio que infantiliza o diferente no afã de descreditá-lo. És lésbica? Por que ainda não connheceu um homem de verdade. Ateus? Nada mais que "desviados" , rebeldes sem causa contra Deus. Tatuagem? "coisa de piá" como se diz na minha terra...
Me irrita sobremaneira ver como pessoas tatuadas, piercinzadas, com cabelos coloridos são alijadas de direitos fundamentais em nosso país, só por que "ousaram" ter um padrão estético não-conservador e personalidade propria. Me cansei de ler em revistas e reportagens sobre tatuagens que algumas empresas "exigem" que as pinturas e acessórios sejam feitos em lugares estratégicos que não fiquem a mostra. Como assim, "exigem"?!?!? Na boa, eu sou atéia convicta (ao menos por enquanto), vivo, num pais laico e não acendo vela pro deus-mercado. E até onde eu saiba o "proletário" (usando o jargão de um barbudão que viveu no século 19 e descia o cacete no "capitalismo selvagem" da época) vende sua força de trabalho e não seu corpo. Prostituição não é crime, cafetinagem, sim!
Todo este desabafo não passa de um ínfimo exemplo das contradições morais de nosso querido país. O país do carnavAl e do "oba-oba" , também é o campeão mundial da homofobia e da intolerãncia religiosa. Um país onde a figura do machão que volta bebedo para casa e espanca sua esposa e filhos é "folclórica e aceitável", mas uma mulher que se atreva a enfeitar seu corpo com tatuagem ou mudar a cor do cabelo, é "vagabunda". Um país onde a promiscuidade sexual hetero é admitida (premiada se o individuo for do sexo masculino), mas a promiscuidade homo é criminalizada, as vezes pela propria comunidade LGBT.
Fica meu desafio: quam vai seguir o exemplo da estudante de Uberaba, ter a honestidade de aceitar-se e valorizar a si mesmo e a coragem de não tirar a mascara na Quarta-Feira de Cinzas?
"Enrustimnento a gente atropela com o carro alegórico da informação e da liberdade (com ou sem brontosauro)"
NO closet!
Desbundái! Festejái! Putiái!(mas reflitái)
pS: Perdoem-me o tom meio jocoso. É Carnaval e estou tentando demonstrar que não sou tão xarope como pareço