Quem luta com monstros deve velar por que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti. (Friedrich Nietzsche)*Dedicado à todas as feministas, à todas estas fantásticas mulheres que sabem o segredo de tirar-nos das órbitas, e nos colocam à pensar, mesmo quando a nossas relações não são lá tão amigáveis. E ás pequenas Malevolazinhas que existem dentro de cada umx de nós.
Olá a todxs. desfaço mais uma vez meu hiato para falar de um tema bastante interessante e que venho ensaiando á varias semanas. Tive o prazer de assistir a versão 3D do novo clássico da Disney, Malévola, protagonizado magistralmente pela atriz Angelina Jolie e achei que o filme merecia uma critica diferente da que tenho lido em sites sobre Questões de Gênero.
ESTE POST, PORTANTO, PODERÁ APRESENTAR SPOILERS SOBRE O FILME, SE VOCÊ AINDA NÃO ASSISTIU, PRIMEIRO VÁ AO CINEMA OU A LOCADORA E SÓ DEPOIS VENHA DEBATER CONOSCO. ;)
Li o texto referente ao link abaixo e o achei muito bom e útil principalmente por apresentar uma análise psicanalítica simbólica, como convém à um site sobre psicologia
E tenho lido algumas análises feministas, as quais tenho minha ressalva à apresentar, em especial à duas questões: A nova versão é feminista, ou seja, tem como central o protagonismo feminino? Pode-se falar em "sororidade" ou numa negação da heteronormatividade? Minha resposta para ambas as questões é "não". Malévola traz uma proposta de debate muito mais profunda, a qual tentarei analisar a partir de alguns fundamentos da Teoria Queer.
Para começar, quero propor uma polêmica a respeito do protagonismo geral das Princesas da Disney. Ao meu ver, com a devida exceção da versão original de A Bela Adormecida, todas as Princesas da Disney são absolutamente protagonistas dos contos de fadas. Assim, reconheço na fábula da Branca de Neve, a menina meiga que se embrenha corajosamente na floresta escura e acaba por se impor a um grupo de sete homens, utilizando seu dotes caseiros como ferramenta de poder. Reconheço na estória da Cinderela a figura da proletária explorada pela própria Madrasta que resolve desobedecê-la e,com a ajuda da Fada Madrinha vai a uma festa onde por acaso conhece o Príncipe e apaixonam-se mutuamente.
Ok, minha interpretação é bastante heterodoxa. O que dizer então dos Principes da Disney? Se a proposta dos desenhos da Disney é incutir nas meninas os papéis patriarcais de gênero, quais os valores impostos para os meninos? Analisando o protagonismo dos Príncipes, quais as qualidades que o Mr.Right deve ter para ser aceito pelas Princesas? Força? Coragem? Esperteza? Virilidade? Sensibilidade? Fica a proposta de análise, sugiro alguns filmes como Aladin, Robin Hood ou mesmo a versão original de A Bela Adormecida.
Voltando ao filme da Angelina, não creio que seja possível utilizá-lo para falar de questões específicas de mulheres (alíás, é sempre bom perguntar: que mulher é essa?) por um motivo bem simples: Malévola não era uma mulher e em momento algum do filme ela é apresentada como tal. Malévola era uma fada, um ser mítico que vivia num Reino vizinho ao dos humanos, ou, para usar um conceito caro às transfeministas, "do outro lado", do lado oposto ao dos Normais (cis*?). Assim a guerra entre os Moors e os Humanos, nada mais seria que a tentativa de colonizar o Anormal para poder dominá-lo.
Malévola, antes de uma mulher era um ser só e incompreendido. Aliás, a película poderia ter explorado mais essa temática que me ficou subentendida, a solidão. Malévola aparece sempre sozinha no filme, como se fosse a única de sua espécie, sendo que as outras fadas aparecem sempre em grupos, ou mesmo formando um exército.
Até que um dia a pobre fada acaba conhecendo uma pessoa muito especial, um garoto que tinha o fascinante poder de passar para o seu lado. Finalmente alguém a entenderia em sua monstruosidade? Finalmente alguém viria para dar fim aquela solidão? Malévola se apaixona pelo garota e revela todos os segredos do reino das Fadas ao pequeno Stefan. Ambos crescem juntos e vivem uma meiga história de amor adolescente, até um dia o jovem Stefan, corrompido pela ganância e assombrado pelas intrigas da Corte dos Humanos, resolve trair a sua amada, cortando-lhe as asas, fonte de sua glória e do poder de voar, tirando-lhe o maior prazer que tinha na vida. Pior, auqle ser que a fada havia pensado ser o unico capaz de compreende-la, aquele jovem tão especial acabaria por rejeitá-la, preterindo-a em favor de uma mulher normal, humana.
A atriz protagonista já admitiu que esta cena, talvez a mais dramática do filme é uma alusão à um estupro e eu iria mais longe, pois para mim se trata de um "estupro corretivo", pois ao arrancar as asas de Malévola, o príncipe busca de alguma forma normatizá-la, curá-la daquilo que ele entendia paradoxalmente como uma aberração e sabia que era sua fonte de poder. Notem que Stefan o faz a contragosto num primeiro momento, tomado pela dor de ter de decidir entre trair o amor de sua vida ou a seu próprio pai, o Rei. Questão a se pensar, pois Stefan era antes de tudo um ser humano, com suas dores, inquietações, alegrias, seus paradigmas morais e suas limitações, enfim sua própria subjetividade.
Talvez um futuro filme, protagonizado pelo Stefan possa nos elucidar os verdadeiros motivos dele ter traído Malévola de forma tão violenta. Talvez um outro lado do outro lado da moeda. Só mais uma provocação.
Talvez um futuro filme, protagonizado pelo Stefan possa nos elucidar os verdadeiros motivos dele ter traído Malévola de forma tão violenta. Talvez um outro lado do outro lado da moeda. Só mais uma provocação.
Depois deste dia, nossa anti-heroína se torna uma pessoa embrutecida, amarga e rancorosa. Todos os pensamentos dela se voltam na direção de uma futura vendetta contra o homem que a havia traído de tal maneira covarde, contra o único ser que poderia tê-la compreendido a para quem havia entregado seus sentimentos e dividido sua juventude. Chega-se ao ponto em que Aurora, a Bela Adormecida desta versão, fala que Malévola havia perdido sua pureza, sua luz interior. Desta maneira, a obra não fala sobre "sororidade", até porque a personagem principal é uma fada tomada pelo ódio e sozinha no mundo, sem ninguém para compreendê-la. muito menos para ajudá-la, mas com dois mundos para julgá-la. É antes uma história de vingança de um individuo contra outro que teria lhe tirado o prazer de viver.
Ao contrário, o filme da Disney pode ser lido como uma saudável advertência: o ódio corrompe, a vingança mata. Não importa o quanto tenhamos sido oprimidxs, tomemos o cuidado de não nos tornarmos piores que nossos opressores. No caminho de sua fúria irracional, tanto Malévola quanto Stefan matam e machucam muita gente.Aurora é uma vítima inocente desse ódio. Ódio que separa pessoas, que cria barreiras, seja de espinhos, de ferro, de incompreensão.
Por fim, coloco uma questão que talvez seja a mais bacana, a mais profunda e poética; afinal, quem se salvou com o polêmico beijo maternal (nossa anti-heroína, sendo uma fada má, tinha extinto maternal, ou como sugerem algumas criticas seria um beijo lésbico?), Malévola ou Aurora? Para mim, o final sugere que quem foi curada da sua maldição foi a própria fada má, que ao descobrir o amor verdadeiro havia recobrado suas asas, sua alegria e seu desejo de viver, deixando para trás o ódio e perdoando seu agressor.
E assim, todos viveram felizes para sempre. (sera?)
EPÍLOGO:
Alguns detalhes deste post foram autobiográficos, incluindo algumas experiencias pessoais e intimas de minha vida particular. Trata- se de um pedido de perdão a certas feministas e de uma súplica de compreensão e de boa vontade. É também um desabafo, pois tenho dificuldades em perdoar pessoas que muito amei num passado não muito distante que acabaram por incorporar meu Principe Stefan, pessoas á quem entreguei ioncentemente meus sonhos sentimentos e que infelizmente não souberam cuidar deles, ou meramente compreendê-los (sim, me refiro à quem vocês estão pensando...). Enfim, este filme me surpreendeu justamente por me identificar com a história de decadência e superação de sua protagonista, tão intensa em sentimentos como a vida- pelo menos a minha. Obrigadx pela valorosa companhia. e deixe seu comentário.
Por fim, coloco uma questão que talvez seja a mais bacana, a mais profunda e poética; afinal, quem se salvou com o polêmico beijo maternal (nossa anti-heroína, sendo uma fada má, tinha extinto maternal, ou como sugerem algumas criticas seria um beijo lésbico?), Malévola ou Aurora? Para mim, o final sugere que quem foi curada da sua maldição foi a própria fada má, que ao descobrir o amor verdadeiro havia recobrado suas asas, sua alegria e seu desejo de viver, deixando para trás o ódio e perdoando seu agressor.
E assim, todos viveram felizes para sempre. (sera?)
EPÍLOGO:
Alguns detalhes deste post foram autobiográficos, incluindo algumas experiencias pessoais e intimas de minha vida particular. Trata- se de um pedido de perdão a certas feministas e de uma súplica de compreensão e de boa vontade. É também um desabafo, pois tenho dificuldades em perdoar pessoas que muito amei num passado não muito distante que acabaram por incorporar meu Principe Stefan, pessoas á quem entreguei ioncentemente meus sonhos sentimentos e que infelizmente não souberam cuidar deles, ou meramente compreendê-los (sim, me refiro à quem vocês estão pensando...). Enfim, este filme me surpreendeu justamente por me identificar com a história de decadência e superação de sua protagonista, tão intensa em sentimentos como a vida- pelo menos a minha. Obrigadx pela valorosa companhia. e deixe seu comentário.
No closet
Desbundai e putiái!
2 Comentários:
o Stefam não é filho do rei no filme, ele é garoto pobre que se aproxima dos poderosos (na passagem de tempo a narradora fala). O que indica na cena que ele trabalha no castelo!
Muito bem observado, Tuany. Apenas tive a impressão no filme que ele fosse uma espécie de fidalgo ou "fihlo ilegítimo" do rei. Não sei no que esse detalhe mudaria na minha análise, mas agradeço muito sua participação. Obrigadx.
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