“Não basta conhecer e
interpretar o mundo, é preciso transformá-lo” (Karl Marx)
Este panfleto tem por
objetivo desmitificar e responder a algumas objeções acerca dessa tão falada e
polêmica teoria, além de defender a importância, ou melhor, a urgência de
adotá-lo em nossas lutas cotidianas, feministas e LGBT. Ele é direcionado
aqueles que nunca tiveram o acesso ou oportunidade de discuti-lo e foi escrito
com a linguagem mais acessível possível. Boa leitura.
O
que é Teoria Queer?
Apesar de todo um discurso
no sentido de torná-la inacessível, a Teoria Queer é muito fácil de ser
compreendida. “Queer” é uma palavra de origem inglesa que pode ter varias
traduções em português: “feio”, “esquisito”, “subversivo”, “torto”, “inumano”,
“retorcido”, “fora-dos-padrões ”, “monstro”, “abjeto”, “pária”... e no idioma
original é o contrário de “straight” (“correto”, “certinho”, “higienizado”, “estabelecido”,
“normal”...) que tem sido muito mal traduzido em nossa língua por
“heterossexual”, mas no original significa muito mais que isso.
Teoria Queer é mais que uma
teorização, uma tática de luta para estas populações minoritárias, baseada no
empoderamento e na autoaceitação do caráter subversivo desses grupos. Não é um
movimento “burguês” (na prática é exatamente o contrário). Não é um tipo de
militância. É um discurso surgido no interior do feminismo, a partir dos anos 90,
por autoras como Teresa de Lauretis, que perceberam que os grande modelos de
interpretar a realidade acabavam por deixar toda essa gente de fora. Apenas
como exemplo, as primeiras autoras a falar na questão das pessoas trans*(1) na
nossa sociedade, dar voz à elas, foram exatamente as teóricas “queer”.
ALGUMAS
OBJEÇÕES RESPONDIDAS DE FORMA HONESTA:
Objeção
I: A Teoria Queer é inacessível ao grande público e não sai da academia:
Correto. A TQ é inacessível
ao grande publico, assim como as grandes autoras feministas e as discussões dos
clássicos da política. Em geral o bojo de todas as discussões teóricas de
qualquer organização fica retido na academia. Não se faz movimento popular sem
a academia, alíás a maioria dos movimentos populares surge na academia. E é por
isso que precisamos da figura do “intelectual orgânico”, que faz o trabalho de
levar esses debates para as bases. Frisamos que a TQ não se propõe a ser um
modo explicativo universal e sim, uma critica a esses modelos e às várias
formas de exclusão advindas destes.
Objeção
II : A TQ não fala sobre a realidade brasileira:
Ótimo argumento. A TQ
originariamente diz pouca coisa sobre nossa realidade, pois a maioria de suas
autoras, como Judith Butler e Beatriz Preciado não estão inseridas em nossa
realidade local. A grande maioria de suas obras não se dirige diretamente à
realidade brasileira contemporânea, assim como os grandes clássicos do
socialismo científico (só para citar um exemplo) eram dirigidos aos
intelectuais e operários do século 19: homens, viris, brancos, cristãos, “straights” e europeus. Todo modelo
teórico é igualmente importante para organizar nossas idéias sobre o mundo que
nos rodeia, desde que sejam sempre atualizados e adaptados ao nosso contexto. Atualmente,
temos algumas autoras trabalhando com esta importante adaptação da TQ em nosso
país, como Berenice Bento, Guacira Lopes Louro, Leandro Colling, Richard
Miskolci...
Este é o mais triste de
todos os argumentos. É duplamente perverso, porque ao mesmo tempo em que exclui
e nega a existência política dessas populações, nega a possibilidade de fazer
reflexões mais aprofundadas, repensar conceitos para organizar de uma forma
mais eficiente as militâncias específicas. Basta lembrar que até o fim dos anos
80 e começo dos 90, a questão da homossexualidade e das mulheres eram ainda
vistas por várias organizações de esquerda como “um problema secundário, que
atrapalha a luta por um Bem Maior”. Muitas destas organizações infelizmente
continuam pensando desta maneira até hoje.
Conclusão:
A TQ não é um movimento
organizado, não é um modelo explicativo, não é uma identidade (não existe uma
pessoa “queer”). É uma teoria surgida no interior do movimento feminista e que
não se propõe a romper com ele, é uma critica importante a antigos modelos de
interpretar o mundo que, apesar de bem intencionados, acabam por deixar
justamente os grupos mais marginalizados de lado. Ao mesmo tempo, demonstra que
as teorias precisam se basear na realidade palpável, na observação da
existência desses grupos estigmatizados, para melhor entender o mundo a nossa
volta e a partir daí podermos transformá-lo. È impossível na atualidade brasileira
fazer feminismo e militância LGBT sem dialogar com a Teoria Queer.
(1)trans*: termo criado por
militantes transfeministas que designa pessoas transexuais, travestis e
transgêneras, assim como o movimento organizado.
No closet
Desbundai e putiái!
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