Hail, Neken!
À seguir, uma tese a ser apresentada como discussão ao XIII ENUDSG- Encontro Nacional em Universidades sobre Diversidade Sexual e de Genero, na sua edição de 2015. Tem como objetivo aquecer o debate e demonstrar o por quê a absurda bandeira da "luta anti-capitalista" é inviável, retrógrada no interior dos Movimentos Sociais- e por que deve ser abolida das pautas do ENUDSG. O texto é muito grande para um blog (12 paginas de Word ao todo) por isso disponibilizarei em breve também em versão .pdf
Infelizmente, não foi possivel apresentar este tema "oficialmente" como matéria do Encontro, devido a questões de tempo e politicas (golpes e ameaças que prefiro nem denunciar). Mas fica como orientação para as proximas oportunidades.
Temas a ser apresentados:
+O mito da Esquerda Progressista
+Conjuntura dos Movimentos Sociais
+O Capital inclui ou exclui as minorias?
+Como o Estatismo atrapalha a luta por direitos.
+Hiro Okita; Como não se fazer História
+Mas o que fazer?
A Direita é tradicionalmente conservadora, racista, homofóbica, machista, gordofóbica... A Esquerda também.
À seguir, uma tese a ser apresentada como discussão ao XIII ENUDSG- Encontro Nacional em Universidades sobre Diversidade Sexual e de Genero, na sua edição de 2015. Tem como objetivo aquecer o debate e demonstrar o por quê a absurda bandeira da "luta anti-capitalista" é inviável, retrógrada no interior dos Movimentos Sociais- e por que deve ser abolida das pautas do ENUDSG. O texto é muito grande para um blog (12 paginas de Word ao todo) por isso disponibilizarei em breve também em versão .pdf
Infelizmente, não foi possivel apresentar este tema "oficialmente" como matéria do Encontro, devido a questões de tempo e politicas (golpes e ameaças que prefiro nem denunciar). Mas fica como orientação para as proximas oportunidades.
Temas a ser apresentados:
+O mito da Esquerda Progressista
+Conjuntura dos Movimentos Sociais
+O Capital inclui ou exclui as minorias?
+Como o Estatismo atrapalha a luta por direitos.
+Hiro Okita; Como não se fazer História
+Mas o que fazer?
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“RADICALIZAÇÃO PRA QUEM?”-
POR UMA MILITÂNCIA DE RESULTADOS.
(MANIFESTO E ANTI-TESE A SER DISCUTIDA NO PRÓXIMO ENUDSG)
Por Dorothy Lavigne, militante trans e
estudante de História pela UFRJ.
“Antes de querer mudar o mundo, limpe a sua
casa”
(Provérbio chinês minimamente adaptado)
INTRODUÇÃO:
A organização do Encontro Nacional
em Universidades sobre Diversidade Sexual e Gênero (ENUDSG) deste ano de 2015
surpreendeu-me, e à vários membros do movimento social com o tema panfletário "Radicalizando as Lutas: o Enfrentamento ao Cis-tema
em Tempos de Crise", uma proposta coincidente com a posição de
organizações partidárias (em especial do PSOL e PSTU) e colocada de forma
autoritária, parecendo mais uma tomada de posição centralista que uma proposta
de debate.
Importante logo de inicio pontuar
que este tema e tais propostas, que incluem a mudança do nome do Encontro, e
que dizem respeito a algumas das maiores polêmicas históricas no interior do
movimento LGBT e que, longe de serem consenso, estão sendo postas na surdina,
numa conjuntura de descrédito de organizações partidárias e esvaziamento
politico, num momento em que militantes independentes temos tido a participação
limitada nestes eventos pela negativa de Reitorias de viabilizar transporte,
apenas como exemplo.
A luta anti-capitalista, tema
exógeno que só vem atrapalhado na organização dos movimentos sociais foi
colocada como um consenso que nunca existiu, é uma das maiores controvérsias
políticas no segmento LGBT, desde sua fundação e que está longe de ser resolvida. Pior, por
trás da tal luta anticapitalista há uma intenção de fagocitar os movimentos
sociais para alimentar os partidos. E mais greve, exclui dos espaços de
discussão política quem discorda da dogmática marxista, silencia as oposições,
muitas vezes com ameaças e apelando para calúnias e difamações.
Qual a necessidade prática do
discurso anti-capitalista na atual conjuntura dos movimentos sociais?
Que
interesses, quais as estratégias que a denuncia da “exploração da mais-valia”
nos apresenta, de forma viável e à curto prazo? Quais os direitos e deveres que
conquistaremos culpabilizando a “burguesia”, ao invés de buscarmos soluções
coerentes com o sistema político-econômico em que vivemos? Se o objetivo dos
movimentos de minorias não é a inclusão na ordem capitalista, direitos e
cidadania aos excluídos, qual mais o seria? Qual o caráter e as táticas de
radicalização que se propõe e a quem isto serve? Como diz o famoso “meme” da
Internet, “qual a necessidade disso?”.
What’s the plan?
Estas são algumas questões que têm
necessidade de ser melhor debatidas no próximo ENUDSG, antes de tentar impor qualquer
consenso e que me proponho e expor
agora, sobre um prisma heterodoxo, mais liberal e arejado, coerente com o
século em que vivemos. Formam um “rascunho”, um peça de construção gradual e
que não está acabada.
O MITO DA ESQUERDA PROGRESSISTA:
Uma falácia muito comum é a de
que a esquerda política representa a defesa das minorias, dos oprimidos, dos
explorados, dos Direitos Humanos e Individuais e que isto a diferencia em
relação a tal da direita. Mas não passa de construção discursiva vazia,
maniqueísta, moralista. “Super Xuxa contra Baixo Astral”, como bem observou um
colega nosso.
Antes de tudo é preciso definir o
que vem a ser “esquerda”. Devido a um fenômeno bastante conhecido nas ciências
políticas, denominado “Janela de Overton”, a definição de esquerda na América
Latina é bem diferente dos EUA e da Europa. Por aqui a noção de esquerda se
limita à grupos marxistas/anarquistas ortodoxos cujas principal bandeira é a
defesa, `a qualquer custo, doa à quem doer (geralmente dói nos mais pobres e
excluídos) da Revolução Proletária.
É por isso que nos EUA, um
partido social-democrata, como o PSDB dificilmente angariaria votos, seria
tachado de “socialista” (como de fato o é), enquanto no Brasil, o tucanato é
visto como “direita conservadora”. Ser de direita ou esquerda é uma questão
relativa, ou melhor, construção retórica cada vez mais em desuso que visa tão
somente a generalização, estigmatização e o ataque moral de cada um dos lados.
E no caso específico do Brasil nenhum dos lados se preocupou ativamente com a
questão das minorias.
A Direita é tradicionalmente conservadora, racista, homofóbica, machista, gordofóbica... A Esquerda também.
Sobre a inutilidade desses rótulos, veja esse excelente video:
A esquerda ortodoxa classista ficou durante séculos denunciando os Direitos Humanos, baseados na Declaração Universal dos Direitos do Homem e na Dos Direitos do Homem e do Cidadão, acusadas de construções de uma “Revolução Burguesa” e de uma “Organização Imperialista” (ONU), para iludir o proletariado e afastá-lo da luta de classes.
A esquerda mundial começará a se interessar
pela questão das liberdades sexuais apenas a partir do Maio de 68- movimento
acusado por autores pós-modernos de excluir os homossexuais e as lésbicas- e no
Brasil a partir de meados da década de 1980 (vide a seção critica á obra de
Hiro Okita mais abaixo). Acusava-se os militantes do Movimento Homossexual da
época de tentar perverter o proletariado com um “vicio burguês”.
A esquerda sempre secundarizou e
continua de forma generalizada secundarizando as bandeiras dos movimentos de
minorias em detrimento da causa operária e reduzindo-as á uma mera ferramenta
para alcançar a revolução proletária e não como um fim em si mesmo.
Quando se trata de atacar a
religião e a família “tradicional”, avança-se na “consciência da classe”. Faz
uma gritaria contra o “monogamismo burguês”, visando-se apenas e de forma
oportunista a demolição de uma das alegadas bases históricas do Capital e
ignora-se as necessidades subjetivas e afetivas do individuo. Quando se trata
de bater de frente com a cultura operária, que via-de-regra defende a mesma
família e religião tradicional conservadora, retrocede-se. E assim não saímos
do lugar.
Alguns partidos e organizações de
esquerda brasileira continuam até hoje insistindo na idéia de que a
homossexualidade perverte a classe trabalhadora, se juntando à vozes de
fundamentalistas religiosos. Apregoam que se trata de uma “frescurice
pós-moderna” assim como chamavam de “alienação hippie” a luta pela liberdade
sexual nos anos 50/60. Continuam apregoando em pleno século XXI uma
“liberação/igualdade sexual” que já caiu em desuso substituído pelo conceito de
“diversidade”.
E ainda acusam de “feminista burguesa”, quem meramente quer
atualizar estes discursos anacrônicos.
Afirmar que a esquerda defende o
direito das minorias é uma meia-verdade. Primeiro por que as definições de
esquerda e direita são fluidas, elásticas, segundo que o movimento LGBT nunca
foi de esquerda, mas aberto, diverso, plural. Na prática as esquerdas que
sempre foram pioneiras nestas causas são a esquerda liberal e social-democrata,
indo contra a corrente reacionária da ortodoxia classista. Mas estes fomos tachados de “direitistas”
exatamente por defender tais bandeiras.
Enquanto isso, chove denuncias de
práticas machistas, racistas, homofóbicas e todas as opressões vindas de
sindicatos, partidos e agremiações de esquerda e que são de pronto, mascaradas.
A esquerda classista continua a
décadas roubando nossas bandeiras, nosso protagonismo. Se dizem defensores dos
Direitos Individuais, mas são absolutamente contra o individualismo. É a esta esquerda, latino-americana, classista,
(pseudo)revolucionária, anacrônica, moralista que me referirei em minhas
criticas
CONJUNTURA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS:
Contamos hoje com a Assembleia
Nacional e o Congresso mais conservador desde 1964, bancadas democraticamente
eleitas pela maior parte do eleitorado e que representa com exatidão a
mentalidade da tal “classe trabalhadora”.
Temos como um dos deputados mais
votados Jair Bolsonaro, que se orgulha de suas posições “polêmicas” e se gaba
de ter gasto uma “merreca” na sua campanha- de fato, não foram vistos mais que
um carro de som e meia dúzia de panfletos no Rio de Janeiro (onde mora sua
base), o que bota por terra a tese de que o grande capital orquestra as
“eleições burguesas”. O brasileiro médio é “reaça”, nossas eleições são democráticas,
com voto universal, ou seja, populares e o atual panorama político reflete
exatamente esta realidade.
A conjuntura atual dos movimentos
sociais no Brasil é de tal forma caótica, calamitosa, que está impossível a
organização em torno de ideais em comum que não sejam aqueles impostos pelas
lideranças da “velha política”, ou seja, a instrumentalização, o uso indevido
feito buchas de canhão das energias das
minorias para o “bem maior” da alienígena causa operária/revolucionária.
Estamos amargando um clima de
total despolitização criado pela “Dialética do Oprimido”, distorção da proposta
anacrônica marxista da Luta de Classes para Luta de Raças, Gêneros, Religiões,
criando massas de “revoltados”, prontas a dar a vida ao “grande ideal” ao mesmo
tempo em que joga uns contra os outros para criar mais caos e atingir a ordem
social. Efeito bola-de-neve. O problema é que muita gente inocente vai se ferir
no processo sem saber por quê.
A idéia original da chamada
“Interseccionalidade” era muito útil: permitir uma experiência aprofundada de
alteridade na qual um grupo de oprimidos/excluídos pudesse entender as
necessidades específicas e melhor se aliar ao outro por um bem comum. Na
prática o que temos é uma briga entre lésbicas e gays, mulheres negras e brancas
(excluindo ou deixando à margem do debate pessoas trans)- tudo com aplausos das
lideranças esquerdistas, contanto que não contestem a sacrossantidade da luta
operária e os sobreviventes do entrevero se voltem obrigatoriamente contra o Capital.
Dividir para conquistar.
E ainda querem colocar “recorte
de classe” no caldo para jogar bicha pobre contra bicha rica?! Eis a total
falência do maniqueísmo marxista e do classismo. É com este Poderoso Exército
de Brancaleone que as lideranças partidárias querem que tomemos de assalto as
ruas, o Congresso, as Universidades e as Assembléias?
O CAPITAL INCLUI OU EXCLUI AS MINORIAS?
Um absurdo que está cada vez mais
comum nos meios LGBT é que o capitalismo se beneficiaria das opressões para
“dividir a classe”. Numa situação excepcional, como numa greve ou num levante,
esta lógica poderia ser coerente, mas como a vida do trabalhador e do estudante
não se resume à militância, estas situações são a excessão e não a regra.
Em situações normais, qual o
empregador suicida que arriscaria desorganizar sua força produtiva, jogando
funcionário contra funcionário, apenas para impedir que eles se organizem,
colocando em risco seu honesto lucro? Aliás, “Impedir que se organizem” para
quê?
De fato, os Mercados têm amargado
prejuízos astronômicos que, segundo pesquisa do Banco Mundial, estão na casa
dos bilhões de dólares anuais apenas na India [1].É
justamente para impedir que os trabalhadores se degladiem e botem em risco a produção que se investe
pesadamente em campanhas de sensibilização, promoção do bem-estar e inclusão
das minorias. “Trabalhador satisfeito rende mais”.
Outro argumento absurdo que se
insiste em repetir é de que o Capítal se aproveita dos estigmas para impor às
minorias os postos de trabalho mais insalubres. É preciso antes de fazer tal
afirmação, definir o conceito de “insalubridade”. Do ponto de vista tanto do
esforço físico, quanto do assédio moral baseado na LGBTfobia, estamos ficando
com os serviços mais leves e em alguns casos, melhor remunerados, os de “profissionais liberais” (esteticistas,
professores, atendentes de telemarketing...). E isto se deve á um perfil
estereotipado de que gays, lésbicas e trans, temos menos força física, maior sensibllidade e facilidade comunicativa.
Na prática não é o Mercado que nos
impõe estes cargos, mas somos que nós que os buscamos, crentes na idéia que a
“peãozada” nestes espaços é menos preconceituosa e violenta com as minorias.
Mais uma vez, trata-se de uma questão de cultura, uma visão conservadora imposta
pelos “90% mais pobres”, que coincidem com a maior parte dos trabalhadores e
consumidores e não uma conspiração burguesa para explorar mais a força de
trabalho.
Se o sistema realmente se
beneficiasse da opressão das minorias para conseguir mão-de-obra qualificada e
mais barata, poderíamos ficar sossegados, pois é exatamente esta força de
trabalho mais barata que o empregador dispensará por ultimo em tempos de Crise.
Críticos do Capital e do Mercado
geralmente se esquecem que por trás de cada operário “explorado” existe um consumidor
“explorador”. O “peão” que violenta seus companheiros “viados” nas fábricas é o
mesmo que se nega a tomar cerveja no restaurante na saída do trabalho por que lá
tem bichas no balcão de atendimento, o que força o patrão a despedir seus
funcionários para não ter que fechar as portas. “O cliente sempre tem razão”- e
via-de-regra o cliente é um operário conservador.
O capitalista nada mais é que um profissional que sobrevive
vendendo para seus clientes o produto que eles desejam adquirir. Se o produto
que o brasileiro médio deseja é o preconceito, é isso que ele venderá, pois a
sua sobrevivência e de sua família é mais importante que ideologias. Como
qualquer pessoa honesta o faria. Ou o produtor se adequa ao consumidor ou
procura outro nicho, ou morre. É assim que funciona o Capital.
Ao mesmo tempo é patente que as
empresas têm cada vez mais apostado em novos nichos consumidores, o que leva
invariavelmente á geração de empregos para grupos historicamente discriminados.
Afinal, quem consome precisa de dinheiro e os capitalistas só conseguem
expandir mercados, permitindo acesso de um numero maior de pessoas ao consumo,
gerando justiça social. E não “pelos nossos belos olhos”, ou devido às dádivas
de algum avatar iluminado que queria nos governar.
Na prática, os únicos que ganham
com as opressões são políticos demagogos, partidos e organizações
(pseudo)revolucionárias que
precisam fabricar insatisfeitos,
revoltados kamikases prontos a pegar em armas para defender suas ideologias. E a
própria ‘classe” que insiste em usar os preconceitos que traz de casa para
atingir a concorrência, indo na contra-mão do progresso.
Outra grande falácia é
apontar uma suposta higienização dos LGBT das classes dominantes. Negativo.
Higienização não vê classe social. A bicha rica precisa se higienizar para não
perder seu status quo e a pobre precisa dela meramente para sobreviver (arrumar
e se manter num emprego). Por outro lado, os pobres conseguem algum nivel de
subversão da ordem por não ter nada a perder, enquanto os mais ricos se
utilizam do Capital (ou da mesada) para tal fim- e de forma fetichizada. Mais
um exemplo no qual a análise classista/economicista só turva o conhecimento em
detrimento de uma boa análise pós-moderna, culturalista, pós-estruturalistas.
Está sobrando “marx-achismo” e
faltando aprofundamento na discussão das relações horizontais a partir da micropolítica,
das relações cotidianas.
Um grande exemplo de como o
excesso de intervencionismo estatal em detrimento da Liberdade Individual de
Mercado- e isto inclui o seu ápice, o cúmulo autoritarista da economia
planificada ( nunca passível de ser posta em prática)- é um empecilho ao acesso
aos direitos fundamentais dos LGBT pode ser o falido Processo Transexualizador
pelo SUS.
Como na lógica socialista a
satisfação das necessidades e desejos do cidadão fica por conta do Estado
centralizado, a decisão final sobre quais intervenções médicas, cirúrgicas,
psíquicas sobre os corpos e mentes fica por conta de governos que precisam se
render à moralidade de seu eleitorado e contribuintes. O Estado não está
disposto a pagar por estes serviços, principalmente em época de crise econômica
internacional e muito menos se isto significar perda de apoio de sua base
política, que como afirmamos, é profundamente conservadora.
Na prática isto significa
restrições absurdas e a imposição de uma equipe interdisciplinar inexistente na
maioria das cidades, além da criação de vários obstáculos jurídicos para esta
população, visando fazer com que desistam dos tais tratamentos, o que inclui a
reafirmação da patologização da transexualidade como “estratégia de inclusão”
(totalmente equivocada) ao Sistema de Saúde.
A solução parece ser óbvia:
deixar o Processo Transexualizador para ser paulatinamente explorado pelo
Mercado. Se o Estado não tem interesse em atender a este publico, o Mercado tem
esta necessidade. Gera lucro para os empresários- com a indissociável geração
de riqueza e renda, aprimoramento das técnicas
e tecnologias mais baratas, retira os empecilhos jurídicos e morais, os custos
tendem a cair junto com os preços, exatamente como ocorre com cirurgias
plásticas, aumenta o acesso, sobretudo das pessoas pobres que desejam estes
serviços, gera uma popularização das práticas e trás à rebote a quebra de preconceitos.
Qual a proposta, a fórmula
milagrosa que os socialistas apresentam como opção? Mais Estado?! Mais Estado
dicernindo autoritáriamente sobre nossos corpos, mentes e identidades?
HIRO OKITA: COMO NÃO SE FAZER HISTÓRIA.
Grande parte dos erros e mitos
construídos pela esquerda brasileira, em sua fúria anti-capitalista incoerente
e inconseqüente se baseiam no panfleto anacrônico de um tal Hiro Okita, “Homossexualismo, da Opressão à
Libertação”, um libelo amador publicado em 1981, e que se propõe a mostrar uma
visão classista do Movimento pela Emancipação Homossexual.
Pouca coisa foi atualizada neste
texto desde então, basicamente modificaram a menção a “homossexualismo” no
original, para “homossexualidade” e nada mais. Marxistas ortodoxos continuam
preocupadíssimos em “avançar na consciência da classe trabalhadora” até ao
inicio dos anos 80(!)- quem sabe um dia, consigam tal feito.
Ignoram que de lá pra cá passamos
pela imposição de um modelo econômico baseado no Capitalismo de Estado,
Esquecem a importância da pandemia de AIDS/HIV na construção do movimento
organizado, responsável esta pela cooptação do movimento LGBT PELO ESTADO.Ignoram a
importância das contribuições dos autores ditos pós-modernos- acusando-os de “neoliberais”
(seja lá do que se trate). Negam, quando não sabotam propositadamente,
tentativas de mudar paradigmas de gênero que vão contra a moralidade proletária/revolucionária,
como Teoria Queer e meterossexualidade...
A tal obra de Okita é tão
absurda, tão anacrônica, tão desatualizada, que resolvemos por apresentar
apenas alguns erros teóricos e historiográficos:
HAVIAM HOMOSSEXUAIS NA GRECIA
CLASSICA E NO MEDIEVO EUROPEU:
Anacronismo. O que a maioria dos
autores se refere ao falar sobre os gregos geralmente é uma instituição
cultural de caráter pedagógico chamada “paederastie”,
na qual um homem mais velho (“erastes”)
iniciava um mais jovem (“eromenos”),
ambos das classes altas. O que entendemos hoje como homossexualidade, a relação
livre entre duas pessoas de mesmo gênero,
é um conceito pós-moderno que só foi possível depois da despatologização
na década de 1990 e que coincide com o descrédito mundial do socialismo e o avanço
do Capitalismo de Estado.
ESPARTANOS APOIAVAM A
HOMOSSEXUALIDADE:
Pelo contrário, no clássico
Origem da Familia, Engels culpabiliza a sodomia dos gregos pela coisificação
das mulheres em toda Grécia ao passo que elogia a virilidade dos espartanos.
Coerente, pois ele via na cidade-estado guerreira um protótipo exemplar para o
método da revolução armada.
Aliás, segundo Xenofonte (A
Constituição dos Lacedemonios, fonte na qual Engels provavelmente se baseou em
suas criticas) Esparta não era apenas homofóbica, mas altamente machista, pois
impunha um pesado treinamento militar à mulheres com o único fim de que elas
concebessem filhos mais saudáveis, braços mais fortes ao exército.
A CRITICA À HOMOSSEXUALIDADE COMO
“VICIO BURGUÊS” É UMA INVENÇÃO STALINISTA:
Embora a expressão “vício
burguês” tenha sido criada à posteriori, já havia uma serie de acusações e
perseguições aos desviantes sexuais, orquestradas pessoalmente por Engels e
Marx no século XIX. Consta que Engels pediu a expulsão do Partido de um
militante de alto escalão Jean Baptist Von Schweitzer, por este ter sido pego
em relação sodomita. Marx acudiu ao companheiro ao perceber de quem se tratava.
Já existia vista-grossa naquela época.
Aliás, “estalinismo” nada mais é
que a boa e “velha falácia do escocês”, tentativa de jogar a culpa da derrota
da Revolução Bolchevique nas costas do grupo vencedor, ignorando a carreira
política de Stalin e a cumplicidade inicial dos Bolcheviques, Lenin e Trotsky,
quando este grupo chegou ao poder
A REVOLUÇÃO BOLCHEVIQUE
DESCRIMINALIZOU A HOMOSSEXUALIDADE.
Okita e seus seguidores se baseiam
num ‘importantíssimo” trecho de panfleto cuja autoria se deve a um tal Dr.
Grigory Batkis. Para comprovar esta importante tese, a esquerda se utiliza de
fontes de terceira mão (!). “Um primo do vizinho me disse que viu...” O texto
não diz absolutamente nada sobre descriminalização, até porque o próprio Okita
admite que não havia nenhuma lei anterior sobre o tema. Se resume a dizer que
todas as formas de sexualidade/afetividade seriam igualmente válidas (desde que
consentidas) e que o Estado não deveria intervir- quando deveria, sim.
Na prática a Revolução de Outubro
criminalizou os desvios sexuais ao nível da micro-politica, fazendo
vista-grossa aos crimes e perseguições no interior do Partido e nas fábricas.
Não havia garantias de defesa civil a estas populações, nem mesmo de
discusssões publicas, não passava de “lava-mãos”, um “cala-te- boca”, e nesse
sentindo é idêntica a jurisdição brasileira, “da pátria Educadora que não faz
propaganda de opção sexual” ou da Russia de Putin, na qual vemos LGBTs sendo
torturados impunemente diante das lentes do Youtube, por que o Estado não pode
intervir.
Importante lembrar que as
definições de violência simbólica e psíquica vieram muito tempo depois,
portanto sendo cronologicamente impossível que a opinião “tão relevante para a
historiografia” do tal Dr.Batkis, cobrisse tais casos.
O “SOMOS” FOI O PRIMEIRO GRUPO
ORGANIZADO DO BRASIL.
Primeiro é preciso definir de que
se trata um grupo organizado. No Brasil já existiam iniciativas importantes
desde pelo menos a década de 1940, como o famoso Grupo OK, entidade formada por
homens que se reuniam para praticar o que chamaríamos hoje de
“crossdressering”, se vestiam como mulheres e de forma lúdica subvertiam a
ordem heterocisnormativa da época.
Como o próprio Okita admite, o
SOMOS- Grupo de Afirmação Homossexual- é fruto de um “racha classista” no
interior do movimento gay que já existia, era um pequeno grupo radical ligado
ao Convergência Socialista (coletivo de onde saíram o PT, e depois PSOL e
PSTU). Sequer poderia se reivindicar como primeiro grupo de inspiração
marxista, pois polemizava com o grupo do Lampião da Esquina, que já nos anos 70
fazia excelente discussão interseccional, dialogando a questão homossexual com
temas de classe, raça e combate ao machismo.
O “SOMOS” FOI BEM SUCEDIDO NA
ALIANÇA COM O OPERARIADO.
Na verdade o SOMOS foi
vergonhosamente derrotado, tanto que desapareceu depois que Okita escreveu seu
panfleto. O cavalo-de-batalha de certos grupos radicais é afirmar que os
militantes do SOMOS foram recebidos com salva de palmas, flores, papel picado,
rojões pelos sindicalistas nas históricas greves do ABC. Mas as fontes, os
documentos da imprensa especializada, apontam exatamente para o contrário.
Na decantada revista Lampíão da
Esquina foram publicadas pelo menos duas Moções de Repúdio aos sindicatos e à
Convergência Socialista, descrevendo com detalhes todo ódio e nojo dos lideres
operários, a forma como usavam da moralidade sexual proletária para retirar das
bichas do SOMOS o direito de fala.
Além disto, há uma reportagem de
capa denunciando as falas anti-homossexuais do maior líder grevista de então,
Luis Inácio da Silva, que afirmara em defesa da homofobia sindical que “não
havia gueis na classe trabalhadora”. E infelizmente ele estava correto, em
pleno século XXI ainda não estamos proletarizados devido a esta mesma
LGBTfobia.
Antes tivessem ido ao Zoológico fazer piquenique, encarar de frente a cultura proletária conservadora e
subverter a heterocisnormatividade da sociedade, como propunha o restante do
movimento organizado que não havia se rendido à ideologia classista radical.
Teriam se juntado ao grupo que teve mais êxito, maior sucesso como protagonista
histórico.
_________________
É preciso terminar com uma
questão sobre o sentido da História na dialética (ou diria melhor,
“convenientética”) marxista.
Com os autores positivistas
apreendemos que a história tem um sentido de aprendizado, Historia Magistra Vitae ( “A História é a Mestra da Vida”),
precisamos aprender com os erros do passado para não repeti-los no presente. Ao
tentar culpabilizar o stalinismo pela perseguição das minorias, esquecem de
pensar de que forma Stalin, “aquele sacripantas traidor da classe operária”,
chegou ao poder. Ou seja, “a História nunca se repete, façamos uma nova
Revolução nos mesmos moldes da de
1917, que dessa vez magicamente dará certo”.
Porém os que afirmam que a
história não se repetirá, que um novo genocida não tomará o poder como a 100
anos atrás- sem explicar como se dará o milagre (haja fé!) são exatamente os
mesmos que tentam monumentalizar uma Revolução Gloriosa na qual as minorias
serão todas respeitadas, empoderadas,
por intervenção de uma casta de avatares iluminados que subirão a
ribalta do Poder e por graça da Fada Sininho.
Afinal, a História se repete ao
não? Decidam-se. Para quê recriar de forma tão patética um passado que nunca
existiu e que certamente jamais se repetirá?
MAS, O QUE FAZER?
A seguir apresenta-se tópicos com
sugestões de encaminhamentos de bandeiras de luta a serem defendidas pelo
Movimento LGBT Universitário.
1) Protagonismo histórico Individual. Basta de
vitimismo! NÃO somos vermes, nem capachos, somos cidadãos conscientes,
eleitores, consumidores, protagonistas de nossa própria luta. Não somos nem
aceitamos que nenhum partido ou coletivo nos use como massa de manobra. Numa
sociedade globalizada temos poder de voto e de veto e é assim que marcharemos,
não como “coitadinhos oprimidos pela burguesia”. Não se ganha nenhuma guerra de
cabeça baixa.
2)
Militância
de Resultados. Chega de tiro no pé! Precisamos atualizar táticas e
estratégias. Precisamos nos livrar desse estorvo classista no interior dos
movimentos sociais e deixar parar trás táticas já desgastadas, como os
“beijaços”, que na pratica estão reproduzindo transfobia, racismo e outras
formas de opressão, quando não fetichizam a homossexualidade ou são usados
descaradamente para promover candidatos ou causas que nos SAP alheias. Lancemos mão do que funciona: o
boicote. Não faz o menor sentido, ao sermos maltratados num bar, voltarmos lá
com mais gente para consumir. O movimento precisa ser mais sério- menos festa e
mais luta.
3) Lutas por dentro da lógica do Capital:
Com tudo que já foi exposto neste Manifesto, o capitalismo é históricamente o
sistema sócio-econômico que melhor inclui e empodera as minorias, exatamente
por funcionar de forma livre, espontânea, de pessoas para pessoas.
Indiferentemente disto, queriam ou não, é preciso aceitar que é este o sistema
que define as regras de interação social em todo planeta na atualidade. È
preciso reconhecer estas regras para melhor organizar estratégias para alcançar
direitos e cidadania. Pensar diferente disto, protelar nossas bandeiras para
depois de uma hipotética Revolução Socialista, é militar contra as minorias.
4) Resgatar o caráter liberal do Junho de 69: A
gana anti-capitalista de certos grupos é tamanha que chega-se a negar que o
grande estopim para os famosos Motins do Greenwich Village, foi justamente a
proibição por parte do “braço armado do Estado” para que os gays frequentassem
os bares da região e se vestissem da forma que quisessem- ou seja, direito à
liberdade de consumo. Se a mão invisível do mercado no sustenta desde aquela
época é por ela que virão ainda mais direitos. Aliança com as empresas gayfriendly! Esta deve ser nossa
estratégia.
5) Abaixo o oportunismo classista e
identitárista! Nossas bandeiras históricas não são contra uma “classe
burguesa”- até por que a maioria dos Universitários e militantes LGBT somos “burgueses”
ou profissionais liberais (pequenos burgueses). Nossa luta é pelo direito de
ser e amar livremente á quem quisermos e não para nos incluir numa letrinha. Movimentos sociais são grupos de pessoas que
se unem estratégicamente para defender bandeiras em comum, que no nosso caso é
a inclusão de estigmatizados e não o empoderamento forçado do operariado
opressor.
6) Radicalizar para dentro: A conjuntura
atual aponta para a impossibilidade de avanços concretos no embate direto com
políticos conservadores à direita e à esquerda no Congresso. Ao mesmo tempo,
grupos oportunistas tentam de todas as formas, apelando para golpes e táticas autoritárias
instrumentalizar os movimentos de minorias para aumentar os quadros de seus
partidos. Se a correlação de forças impede este embate externo, o momento exige
uma radicalização na limpeza de nossa casa. “Expulsar, anular os interesses
político-partidários no interior dos movimentos sociais”- esta deve ser nossa
palavra-de-ordem.
7) Fora partidos, sindicatos e coletivos
instrumentalizados pelos mesmos! Movimento de minorias é para
auto-organização de minorias, não para desfilar bandeiras e ideologias estranhas
aos interesses desses movimentos. Principalmente quando tais partidos são
financiados/agregados por organizações internacionais que desconhecem nossa
realidade local, fazem “centralismo cupulocrático”, impõe sua política de cima
a baixo sem discutir com a base e ainda se negam á fazer discussão aprofundada
sobre gênero e sexualidade. Pìor, quando tiram nosso direito de fala e
homenageiam personagens/organizações históricas reconhecidamente homofóbicas,
racistas e machistas (como o MST e Che Guevara).
8) Movimento horizontal e individualista: Mais
que horizontais, movimentos sociais devem ser tocados por indivíduos, por
militantes independentes que têm interesses em comum. Movimento não se faz pela
base, eles SÂO a base. Se um movimento social divide seus quadros entre base e
lideranças, já não são horizontais, estão burocratizados e cupulatizados. “Nós
por nós”!A menor minoria que existe é o individuo, ser contra o indivíduo e ser
contra todas as minorias.
9) Abaixo
a macro política populista e personalista!
Basta de bandeiras antidemocráticas alienizantes que culpabilizam
figurões da política para estrategicamente desresponsabilizar suas bases,
a sociedade civil. È perda de tempo
chamar campanha “Fora Cunha”, quando Bolsonaro já disse que tomaria seu lugar e
enquanto as travestis continuam se prostituindo a contra-gosto e sendo mortas
pelos operários que elegem estes politicos. È anacronismo ingênuo em pleno
século XXI esperarmos por Salvadores da Humanidade que resolverão nossos
problemas e sanarão nossas necessidades.
10) Movimento de minorias só se faz pela
micro-politica. Nossa missão histórica não é denunciar, bater de frente com
lideres ou instituições, como a polícia-fardada, menos ainda com uma inalcançável
superestrutura, mas sensibilizar nossos vizinhos, colegas de faculdade,
parentes sobre a violência LGBTfóbica- “trabalho diário de formiguinha” que
intervém diretamente na realidade concreta. Precisamos mais que nunca de uma
militância de resultados e não de ideologias de longo prazo. Revolução é
mudança de paradigma, fazer com que as pessoas mudem sua forma de pensar.
11) Financiamento exclusivamente privado. ”Quem
paga a banda escolhe a musica” e já estamos cansadxs de financiamento de
governos corruptos, de máfias e de políticos LGBTfóbicos. Quem deve financiar
nossos eventos é quem tem intenções reconhecidas: as empresas que buscam o
lucro honesto e a melhoria da sociedade apoiando nossa causa, e jamais
sindicatos machistas e LGBTfóbicos.. “Quem paga a banda escolhe a musica” e a Sinfonia do proselitismo e da
instrumentalização já acabou.
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