0

Ainda sobre a [des]patologização: desabafo do Menino Guerreiro

segunda-feira, 11 de junho de 2012.
Ave Butler! Hail Mott!

Continuando a polêmica sobre a Despatologização das identidades "trans", reproduzo com carinho um artigo escrito por amigo e companheiro de luta que utiliza o justo codinome  de Menino Guerreiro e e´autodefinido como transhomem (criticas aos identirarismos á parte) e que preferiu apaprecer disfarsado para não sofrer represálias,hehehe. Gostaria muito que alguém comentasse abaixo, concordando ou não e penso que seria muito útil se pudéssemos incluir nunm outro post, um texto favorável a continuidade da patologização, seria um bom contraponto.

Segue o desabafo:.


Venho falar de um assunto que incomoda há tempos. Mas venho como quem é atingido, nada de pretensões acadêmicas. Até agora tudo o que ouvi ou li não me satisfaz, não dá conta do que penso e sinto. Por isso me atrevo a dizer mais.
Falo da patologização da transexualidade. É bem verdade que para mim, esta patologização não é somente de um estado, mas de todas as vidas que teimam em não se adequar estoica e sorridentemente na gavetinha da “preferência nacional”: a heterossexualidade. Não acho que só pessoas trans deveriam estar incomodadas com este julgamento estratificador desrespeitoso, não somos apenas nós xs condenadxs aos códigos, são todxs que desafiam o império heterossexual, altamente arquitetado pela monarquia absolutista da medicina.
Sem sombra de dúvida, questiono a veracidade desta patologia. Se sabemos que a masculinidade e/ou a feminilidade é produzida pela sociedade numa rotina incessante, via adestramento, minha pergunta é óbvia: Porque alguém que não está lucrando nada com esse processo, insiste neste circo? E vem daí minha indignação e até certo ponto, minha irritação com a comunidade que eu deveria pertencer. Falo especificamente dos homens transexuais, as mulheres estão bem mais adiantadas, contudo não é prudente fazer generalizações. Os homens trans, em sua maioria, no contexto nacional, são favoráveis e fervorosos militantes deste encarceramento. Não compreendo. Juro que já tentei, porém não encontro explicações racionais. E como sou um igual, me sinto confortável em argumentar criticamente contra este lugar de “cordeirinho manso”.
     A fala recorrente é de que precisamos do poder médico para realizar as cirurgias e a hormonização. Alguns chegam a aludir a um suposto saber onipotente, que jamais deveria ser contestado, sob pena de cometer um sacrilégio. Seria cômico se não fosse trágico. Tomar o saber médico/psicológico como lei é além de estrategicamente infeliz, absurdamente pelego. Não encontro outra palavra que defina melhor esta situação. Não escondo que busco respostas mais contundentes em outros saberes, e que me encanta muito mais teorias mais críticas e menos arrogantes.
     Metanarrativas me incomodam. Superciências (ou super cientistas) me aborrecem. Prefiro a compreensão do fenômeno contemporâneo da transexualidade pela perspectiva de ser apenas uma outra forma de existência que não se alinha aos caminhos ditados de uma sociedade incapaz de conviver pacifica e harmoniosamente com a diversidade de vidas. Não falo nem humana, porque o meu planeta não é só meu, nem de minha tola espécie. Ainda bem, somos muito entediantes e mesquinhos para a Terra.
     Voltando ao propósito. Penso que é preciso compreender a apreensão da sexualidade e da corporalidade pela medicina e suas derivadas como mais um jogo de manutenção do status quo, em que essas ciências são apenas algumas formas de conhecimento, sem nenhuma chance de representarem a perfeição no status científico. Palavra final não “rola mais” num mundo em que a informação não é mais (ou pelo menos não deveria ser) um privilégio de alguns grupos, em que o monopólio das ciências naturais como explicação para os fenômenos sociais já foi derrubado e em que se reconhece cada vez mais que NENHUMA ciência ou NENHUM conhecimento é sólido e impermeável a ponto de ser dogmático. Enfim, acredito que esta defesa acalorada do saber médico, só demonstra o descompasso da população trans e a própria história social, uma vez que trata-se de uma tática de obediência e servilismo, sendo que estas “habilidades” nem sempre nos trouxeram qualquer retribuição.
     Aceitar ser patologizado é rasgar seus direitos civis, é infantilizar-se em troca de uma aceitação social (que nunca acontece), é descrever-se como ser sem escolha, é resignar-se com um destino infalível, é deixar em outras mãos o seu futuro e o seu presente, é negar que só temos presente e pretendemos um futuro ao sermos obra de um passado que também construímos, é fazer escambo com sua dignidade, é autorizar outrem a tutelar nossas vidas e corpos, é doar aos nossos inquisidores e carrascos o chicote que nos violenta com suas definições, laudos, testes, comprovações e todas as artimanhas que esses donos de nossas mentes e almas utilizam para domar o instinto de toda vida que existe: o instinto de existir como quiser.
     Contudo, meu intento ainda é outro. Gostaria muito de descobrir, ou de pelo menos compreender, ainda que pouco, as motivações que levam tantos homens transexuais a aceitar a patologização de sua experiência, que só piora quando ouço frases do tipo: “sei que não sou doente, mas precisamos deste status por hora”. E quando será o momento de questionar essa arbitrariedade? Quando nossos destinos já estiverem selados com a extradição de nossos corpos ao terreno das aberrações “corrigidas”, ou na linguagem do poder médico “readequadas”? Esta postura me faz temer muito o quê pode nos esperar, pois, ao contrário dos meus iguais não acredito piamente na “bondade irrefutável” e na “perfeição celestial” da medicina, portanto, temo o futuro relembrando o pretérito. Em outros tempos – não tão distantes – o “tratamento” para a correção das anormalidades poderia ser muito semelhante às práticas do santo ofício ou dos campos de concentração da Germânia nazista. Vai que a moda volta, não é mesmo? Seguro morreu de velho.
     Penso que para esquematizar minhas conclusões seria pertinente à divisão em dois eixos explicativos para esta sujeição voluntária de meus compatriotas de corpo ao poder abusivo das ciências médicas e suas adjacências. Meu primeiro possível entendimento para tal conduta está relacionado à constante necessidade do ser humano de hierarquizar tudo e todxs. Chamarei aqui de hierarquia residual. Minha outra elucubração é muito mais complexa de definir, minha crença é que de alguma forma que não consigo compreender (por mais que esforce ao máximo) minha população acata todo este teatrinho da patologização encenando perfeitamente seu papel de dócil doente convicto devido a uma implicação moral. Há algum ganho moral nesta perversa posição. E este proveito que não me convence em nada, e talvez por isso, me seja tão difícil a compreensão.
     Pois bem, vamos aos pontos. Denominei de hierarquia residual (e afirmo que se outrxs já usaram este termo, peço desculpas, mas desconheço) a ocorrência da manutenção de divisões altamente hierárquicas em minha população. Os hormonizados são considerados mais homens que os que não iniciaram a sua terapia. Os que têm o laudo estão à frente de quem ainda não o possui. Aqueles que fizeram cirurgias (principalmente a mastectomia, sendo que tamanhos menores dos seios também são indicadores da “masculinidade”... Hã???) são mais masculinos e “mais convictos” que outros, pois já estão em fase final de transição. Quem alterou a documentação conseguiu atingir todas as etapas deste jogo e ganha o título-prêmio de “homem de verdade”. Excluindo minha paciência nula com estes contrassensos, penso que há um motivo real para esta hierarquização, afinal somos todxs ensinadxs a reproduzir a cultura, e nossa cultura é hierarquizante. Parece-me uma tática tola de tão cruel, pois ao inferiorizarmos “os de dentro (nossos iguais)” que ainda não cumpriram todas as exigências do “rito de passagem”, buscamos egoisticamente nos elevar aproximando nossa imagem aos mais adaptados. Darwin e sua teoria (que mais tarde deram origem às doutrinas evolucionistas sociais) demonstra ser leitura de cabeceira de quem sustenta tais convicções. Só digo que vejo tudo isso como um tremendo “tiro no pé”. Ao sustentar que há algo completamente adequado e normal a ser atingido, nos afastamos paradoxalmente da possibilidade de uma existência digna.
     Quanto ao lucro moral não consigo aprofundar minhas análises, pois, como já afirmei, este posicionamento me enoja a ponto de ser passional minha reação. Questiono-me até onde vale teimar nesta luta, em que a própria população deseja a sua cova, e o pior sente-se agraciada com o aprisionamento. Em nome de protocolos de cirurgias que não passam de migalhas, vende-se sua humanidade, sua autonomia e a tutela do estado psiquiatrizante é tida como a "melhor das soluções". Não entendo. Não consigo entender. Como algo tão nefasto pode ser bom? Confesso que não entendo como vitimização, pois, percebo que quem usa o discurso de “não sou doente, mas preciso de tratamento e por isso aceito o adoentamento” é consciente desta manipulação perversa, alimenta este teatrinho de mau gosto. Acredito que tenha a ver com a ideia sinistra de que ao se dizer doente, pensa-se que a sociedade irá aceitar e abrir as “portas da felicidade” para os infortunados do destino. Ora, não há nada mais fantasioso que isto! Perder o direito à escolha por ser portador de uma enfermidade comprometedora de suas faculdades mentais não pode trazer nenhum consentimento social, mesmo que movido por compaixão, para a alegria de pertencer ao rebanho. Ao que me conste, esta estratégia nunca foi muito exitosa. Por que para um preconceito tão arraigado seria? Primeiro que implorar piedade nunca salvou ninguém dos seus algozes. Além de não ser nada honroso ir a uma guerra solicitando o obséquio de ser perdoado por existir. Aliás, até onde eu saiba pedir clemência sempre trouxe apenas um suplício mais duradouro ou uma perene escravidão. Em nada este destino me interessa. Não são as portas da felicidade que se abrem “miraculosamente” para os mais obedientes servos da “normalidade”, são as janelas dos cativeiros da servidão dependente que abruptamente se fecham, impondo à anoxia aos nossos sonhos, aos nossos desejos, aos nossos corpos, as nossas almas e as nossas vidas. É somente enquanto houver a semente teimosa desejante de outro tempo, em que a diferença seja compreendida como constituinte de nossa realidade; outra sociedade, que brinde a diversidade; outro mundo sem hierarquias e sem superioridades estúpidas em nossos caminhos que poderemos conquistar a mais bela das vitórias: a compreensão que somos completxs e destinadxs à felicidade pois somos dotadxs das mais infinitas possibilidades de existência as sermos apenas, e nada mais que isso, seres VIVOS!!!

VIVA A DESPATOLOGIZAÇÃO!!!

MENINO GUERREIRO,.09/06/2012.

*Valeu Warrior Boy! Vamos de MPP-Movimento Pé na Porta!

No closet

Desbundai e putiá
Leia Mais...
0

Berenice Bento, carta desabafo (sobre o Seminário: Processo transexualizador no SUS)

quinta-feira, 7 de junho de 2012.
Ave Butler! Hail Mott!



Hoje interrompo mais uma vez nossa programação "normal" para divulgar um posicionamento importantíssimo da querida Profª Dr Berenice bento, que esteve presente, como ativista e pesquisadora à mais um circo armado pelo Ministério da Saúde, com o fim de  reiterar nossa suposta doença mental, de forma totalmente arbitrária  e por cima de qualquer disposição em contrário:

*Quem se interessar pelo tema e, como eu, ficar indignad@ pelo descaso de nossa gestores de sáude, favor compartilar e colar nos blogs, etc...
, favor
Carta-desabafo

Berenice Bento -Coordenadora do Núcleo Interdisciplinar Tirésias/UFRN

Prezadas/os amigos/as e colegas, gostaria de compartilhar com vocês algumas impressões acerca da reunião que aconteceu nos dias 4 e 5 de junho em Brasília, organizada pelo Ministério da Saúde, intitulada Seminário: Processo transexualizador no SUS. Seu principal objetivo seria compartilhar experiências e discutir a reformulação da Portaria No. 457, de 19 de agosto de 2008, que estabelece diretrizes para o processo transexualizador.
Sem dúvida, um debate crucial tanto para as pessoas transexuais e travestis, quanto para profissionais de saúde e pesquisadoras/es nesse campo. Por essa razão, até o momento, não consigo compreender o porquê foi ‘proibida’ a participação de pesquisadores/as e ativistas nos trabalhos do dia 04, ficando a discussão restrita aos/às representantes dos serviços (Hospitais que fazem as cirurgias de transgenitalização e os ambulatórios voltados para atender às populações travesti e transexual). Pergunto: não deveriam ser os/as usuários/as do serviço os protagonistas principais em uma reunião cuja pauta era avaliar a qualidade do serviço? Nesse caso específico, as pessoas transexuais e travestis?
Ao longo de todo o dia 05 eu me perguntava: o que pretende realmente o estado brasileiro? Por que reunir tanta gente com tamanha experiência (e expectativa) sem ter construído uma dinâmica de debate que, de fato, garanta a participação de todos/as? Por que o estado nos convidou para contribuir com o debate sobre o processo transexualidador, enchendo uma sala com pesquisadores/as de todo Brasil e ativistas trans que se dedicam à luta pelos direitos humanos das pessoas trans há décadas, sem assegurar o espaço adequado para a deliberação democrática?
Éramos dezenas e muitos de nós imaginávamos que ali estávamos para reformular a Portaria 457. Contudo, ao longo das nossas intervenções nos demos conta de que já havia uma proposta de reformulação dessa Portaria.Quem a concebeu? Com quem foi debatida? Quem a havia recebido anteriormente? Tínhamos apenas um dia de discussão: das 9h00 às 13h00. Saímos para almoçar e voltamos às 15h00. Terminamos às 16h30. Saí de Brasília com muitas perguntas:

1) Por que os/as gestores/as do Ministério da Saúde não distribuíram antes (via email) a pré-proposta de reformulação da Portaria?

2) Por que não se desenhou uma dinâmica/metodologia que permitisse a participação efetiva de todos os presentes? Podia ser uma dinâmica simples. Por exemplo: pela manhã se faria uma divisão em grupos de
trabalho e cada grupo ficaria responsável por discutir e sugerir alterações na Portaria. Durante a tarde, em plenária, faríamos os encaminhamentos. Fico com a impressão de estar ensinando a missa ao vigário. Não posso deixar de pensar que não optar por um “debate”exclusivamente em plenária os/as organizadores/as queriam evitar uma discussão mais aprofundada sobre o conteúdo da Portaria, assim como os encaminhamentos mais objetivos.

3) Por que parte dos profissionais envolvidos com o serviço de atendimento às pessoas trans se retiraram da plenária quando foi discutido o caráter patologizante da Portaria?

4) Por que não havia nenhum/a representante dos coletivos transexuais e travestis em nenhuma das mesas nos dois dias? E aqui vale uma ressalva: não estou desqualificando ou criticando as densas e importantíssimas reflexões de Guilherme Almeida, Tatiana Lionço e Anibal Guimarães, pois esses três pesquisadores/as-ativistas dispensam qualquer tipo de comentário sobre a seriedade dos seus trabalhos.

5) Por que a representante do Ministério da Saúde abusou do uso da palavra, de modo que restringiu a possibilidade de expressão das/os demais participante a palavra? Na reunião o tempo era o bem mais
precioso, porém ela sempre extrapolou seu tempo quando teve o microfone em mãos, o que aconteceu inúmeras vezes. Na minha experiência de participação em fóruns chamados pelo estado, em geral,
e corretamente, o gestor escuta mais e fala menos.

Ao longo de quase 20 anos como pesquisadora e ativista dos direitos humanos, sem dúvida, esse foi o encontro mais confuso e desorganizado de que participei. E, quando a desorganização é tamanha, é inevitável tecer dúvidas quanto às intenções que motivaram tal “(des) organização”. E eu tenho
muitas dúvidas. Não quero que meu nome seja usado para legitimar um suposto processo democrático de consulta sobre a reformulação da Portaria. Não tivemos uma discussão, de fato, na reunião de Brasília. Quero dar um único exemplo: afirmei, categoricamente, que nesse momento está em curso uma intensa discussão sobre a despotalogização no âmbito da própria OMS (Organização Mundial de Saúde), as quais possivelmente vão resultar na exclusão da transexualidade do capítulo V (letra F) no próximo CID (Código Internacional de Doenças), sendo transportado para uma seção denominada  “Cuidados à saúde das pessoas trans”. Eu também afirmei que se consideramos que a transexualidade e a travestilidade não são transtornos mentais, nada, ABSOLUTAMENTE NADA, justifica a permanência de psiquiatras nas equipes multidisciplinares.
Pois bem, em reação à minha fala, Mariluza Terra, do Hospital das Clínicas de Goiás, afirmou que a proposta da “Berenice é muito interessante, mas não podemos esperar a reformulação do CID para atender aos homens trans”. Eu não disse que se tratava de esperar a reformulação do CID. O Brasil é um país autônomo e pode, unilateralmente, publicar uma Portaria nos termos que considerar pertinente. Ora, a França despatologizou a transexualidade muito antes de qualquer revisão do CID. Ou mais perto de nós, podemos citar a nova lei de identidade de gênero argentina que assegura direitos fundamentais às pessoas trans (transexuais e travestis). Com isso, o país passou a ter a legislação mais avançada do mundo. A lei argentina estabelece: 1) qualquer pessoa poderá solicitar a retificação de seu sexo no registro civil, incluindo o nome de batismo e a foto de identidade, 2) a mudança de sexo não necessitará mais do aval da justiça para reconhecimento, 3) o sistema de saúde deverá incluir operações e tratamentos para a adequação ao gênero escolhido, 4) a nova lei define identidade de gênero como a "vivência interna e individual tal como cada pessoa a sente, que pode corresponder ou não ao sexo determinado no momento do nascimento, incluindo a vivência pessoal do corpo", 5) Não condiciona as mudanças nos documentos à realização das cirurgias de transgenitalização.
Na confusão geral que havia tomado a reunião, não tive tempo de responder a questão levanta por Marizula Terra, mas estou convencida de que o argumento desenvolvido por ela conduz a um raciocínio danoso: vamos publicar a Portaria nos atuais termos patologizantes. Incluímos os homens trans e depois vamos ver o que faremos. Esta estrutura argumentativa, que pode ser interpretada como patologização negociada, tem sido amplamente utilizada para sistematicamente reiterar o caráter de transtorno mental das experiências trans. Mas a patologização não dá nada, só retira. A patologização não empodera as pessoas trans, mas as silencia. Como um/a doente mental pode falar de si mesmo? Concordo com a proposta que construímos na reunião que aconteceu em Haia (Holanda) em novembro de 2011. Durante três dias, 18 especialistas e ativistas trans de vários países discutiram a reforma do CID. Esse evento, organizado pelo GATE (Global Action for Trans Equality), foi financiado pelo Ministério da Educação da Holanda. O relatório final foi enviado ao grupo de trabalho do CID responsável pelo capítulo V (letra F): Transtornos Mentais e Comportamentais. Defendemos que o foco deva ser no cuidado à saúde das pessoas trans. Portanto, os procedimentos singulares às transformações corporais devem ser no incluídos, no próximo CID, no capítulo XXI (letra Z): Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com os serviços de saúde com o subtítulo: CUIDADOS À SAÚDE DAS PESSOAS TRANS, sem nenhuma referência às questões identitárias.
Este é apenas um exemplo dos feitos nefastos da falta de tempo e das confusões que aconteceram no dia 05 de junho. Imagino que, com razão, depois de ouvir os “esclarecimentos” de Mariluza Terra muitas pessoas trans, que esperam há anos para serem atendidas, devem ter concluído: “é melhor mesmo preservar a lógica de transtorno mental, caso contrário vai demorar muito mais para eu ter minha cirurgia”.
Ao longo de minha vida aprendi uma coisa muito simples com ofeminismo; a visibilidade nos protege. E como esta visibilidade acontece nas vivências trans? Se me negam a palavra, eu faço barraco. É o bafão! Gostei muito do bafão da Fernanda Benvenutty. Suas palavras brotavam do útero.Seu grito: quem sou eu? Uma doente mental? Então, eu posso pedir aposentadoria porque sou uma incapaz? Quem pode falar por mim? Eu sou uma travesti? Sou uma transexual? O que isso importa?
Aqui, o barraco é resignificado como mecanismo de sobrevivência.Trata-se de uma epistemologia singular daqueles que se negam a morrer.Precisamos de mais gente adepta à epistemologia/práxis do barraco. Já passou da hora das equipes biomédicas e o estado entenderem que os “seus/suas pacientes” são sujeitos. Esse deve ser o princípio orientador da Portaria e de todas as políticas públicas voltadas para a população trans.
Não queremos caridade. Chega de vida precária! Queremos o reconhecimento pleno da existência plural de experiências/expressões de gênero. Sem tutela. Sem psiquiatras.

****

MINHA CONCLUSÂO: Quanto a mim, não há nenhuma dúvida, Foi mais um GOLPE do sistema de saúde brasileiro para tentar "justificar" um decisão totalmente arbitrária. O fato dos pesquisadores e especialistas terem sido colocados de lado no "debate" demonstra que os gestores do SUS admitem não ter a  menor base científica para insistir na patologização forçada das identidades trans. E a atitude autoritária da senhora Mariluza Terra para mim não é nada nova, Já é de praxe os gestores de saude tirarem o microfone da boca dos defensores da despatologização e usar argumentos esquálidos para confundir os usuários.

No closet

Desbundai e putiái!
Leia Mais...
0

Pussy Riots! (Perpétua desaprova)

sexta-feira, 1 de junho de 2012.

"1, 2, 3, 4, 5, 1000! O que você tem contra a puta que pariu!?"

 Ave Butler! Hail Mott!

Aconteceu no ultimo sabado (dia 26), portanto a quase uma semana atrás. a versão carioca e nacionalmente Passeata da Barregãs de S.Sebastião, vulg@ Desfile das Piranhas da Guanabara. Aqui vou comentar minha experiencia pessoal, fazendo um "link" com o que saiu na midia.
Um singelo histórico do que motivara o movimento internacional: era uma vez numa cidade muito  distante no interior do Canadá um policial fascistóide que vivia batendo e sumindo sumariamente com prostitutas do lugar, até que um dia as mesmas resolveram se juntar e dar um cacete no infeliz até desfigurá-lo arrancaram e roupa e ficaram dançando emcima do cadáver. Tal ato marcara em 2010 o fim da sociedade judaico-cristã-ocidental e desde então celebra-se anualmente com muita suruba e pouca roupa toda liberalidade imoral e o fim da ética burguesa no ocidente.


"Quem conta um conto aumenta um ponto..."

Na verdade, infelizmente, trata-se de uma resposta a um policial que, num evento universitário, havia dito que as mulheres seriam menAs estupradas se vetissem roupas mais discretas (leia-se "não se vestissem como vagabundas"). A resposta, irada e irõnica, à altura fora a criação de um movimento internacional de caráter feminista, chamado SlutWalk- a Marcha das Vadias, em português.

          Criticas e reações


Chamaram-me a atenção nestas ultimas semanas algumas criticas e posicionamentos, alguns bem sexistas aliás. Eu prefiro não usar o conceito "machismo" por me filiar a uma linha de pensamento pór-feminsta, Queer.
Perpétua não aprova
 Primeiro, foi o ato-falho de um senhor comunicador do SBT de Santa Catarina, um ilustrissimo filhote da Ditadura, que, além de fazer a linha-dura pela moral e bons costumes, tem o péssimo costume de se contradizer quando a ocasião lhe impõe (nada substitui a audiência). Primeiro o infeliz cidadão me apresnta um artigo em seu blog, pedindo compostura às suas leitoras- há uma semana da Slutwalk (!) E aqui o idiota muda de idéia, quando percebe o tamanho da cagada.
Gostei bastante de uma critica feita no blog do Edward Pimenta, citando Camille Paglia:
ão chame a si mesmo de vagabunda, a menos que você esteja preparada para viver e defender-se como uma. Meu credo é um feminismo alerta, cauteloso, militante, o duro código de sobrevivência de prostitutas e drag queens.
O sexo é uma força da natureza, e não apenas uma construção social. (…) Meninas superprotegidas de classe média têm uma visão perigosamente ingênua do mundo. Elas não conseguem ver a animalidade e primitivismo do sexo, historicamente controlada pelas tradições da religião e da moralidade, agora firmemente dissolvendo-se no Ocidente. A revolução sexual vencida pela minha geração anos 1960 é uma faca de dois gumes.”
 Tai, gostei. Acho uma critica bastante relevante e que encontra ecos, muito distorcidos, diga-se de passagem no discurso masculinista tupiniquim. A revolução sexual aconteceu nos anos 60 e a perdemos... ganhando. Não existe liberdade sem responsabilidade -e sem resistência-e se você quer ser uma vadia, compre uma faca bem portátil para carregar na bolsa. "Se vis pacem para belum" ("Se desejas a paz, prepara-te para a guerra"). Quantas tem coragem para sair de suas casas e adentrar de peitos de fora seu lugar de trabalho? A vida real não é uma passeata bonita e colorida.
Por ultimo, gostei de ver o posicionamento corajoso da A ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, elogiando o evento. Essa vai ser demitida logo, hehehe.

Tomando de assalto a casa do sexista-mor


A concentração e momento da confecção de faixas e cartazes se deu  no posto 4 da praia  de Copacabana. Saimos em "procissão" até certa altura da Avenida Atlântica,q uando mudamos temporariamente a rota a caminho da delegacia, onde ocorreu um ato simbólico. Uma menina fez um discurso e no final deixou-se manchar de tinta vermelha, representando o sangue derramado pelas mulheres diariamente violentadas, frente a passividade e conivência das autoridades. Porém, uma ação inesperada por parte dos manifestantes antes de chagermos a delegacia chamu a atenção da sociedade carioca. Havia uma igreja no meio do caminho, no meio do caminho havia uma igreja. Consegue imaginar qual a reação da turba revoltada e puta, ao e deparar no meio da Caminhada das Quengas, com um cartas de mais de 10 metos de altura com a figura do Senador PalpatineBento XVI? O resultado foi a mais deliciosa porralouquice que já pude testemunhar. Curte ai:


<br>E cá pra nós: tem coisa mais deliciosa que a mulherada adentrar a Casa do Sinhô com a belezura que vieram ao mundo? Eu teria achado a coisa mais digna se minha amiga (que nem tava pelada) não tivesse levado spray de pimenta,na confusão. Poderia ter sido uma bomba ao invés de peitos, mas teria sido uma proposta politicamente incorreta da minha parte. Mas desde quando a direita defende o politicmante correto?
*EM BREVE, FOTOS DA MANIFESTAÇÃO*

No closet

Desbundai e putiái!
Leia Mais...

Total de visualizações de página

 
Covil da Medusa. © Copyright | Template By Mundo Blogger |
Subir